Entrevista com Anelis Assumpção

Atração da 8º edição do Arvo Festival, que aconteceu dia 28/10 em Florianópolis, a artista conversou com a Revista Artemísia após sua apresentação.

Foto: Felipe Maciel

Por Renan Bernardi

Anelis Assumpção foi a quarta atração da programação do último Arvo Festival. Com seu show começando às 16h55, a artista paulista subiu no palco principal do evento depois das apresentações da Reis do Nada, Tulipa Ruiz e Coral Tape Mirim.

Em sua oitava edição, o Arvo aconteceu no dia 28 de outubro, na Arena Império das Águias, no bairro do Campeche, em Florianópolis, e ainda reuniu nomes como Jorge Aragão, Liniker, FBC, Baco Exu do Blues, Dandara Manoela e muito mais. Confira também a nossa matéria com a cobertura completa do dia do festival para saber como tudo rolou por lá.

Após seu show, Anelis conversou com a gente no backstage do festival. Além de ter a honra de entrevistar essa grande artista, tivemos também o privilégio de fazer isso em uma espécie de mini-coletiva-de-imprensa, acompanhados de Fernanda Pessoa, do Portal Catarinas, que merece aqui a nossa recomendação pelo trabalho corajoso e pioneiro que realizam em Santa Catarina.

Renan Bernardi e Fernanda Pessoa entrevistando Anelis Assumpção. Foto: Felipe Maciel

Lançado em dezembro de 2022, Sal é o álbum mais recente de Anelis e também o mote de sua atual turnê que incluiu o Arvo Festival na agenda de shows. Com produção diversificada e 100% feminina, o trabalho contou com as artistas Larissa Luz, Luedji Luna, Céu, Iara Rennó, Jadsa, Josyara, Maíra Freitas, Thalma de Freitas e Mahmundi nos bastidores de sua concepção e construção.

Ao falar sobre as pessoas envolvidas nessa produção, Fernanda citou a frase de Ângela Davis, “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, e Anelis respondeu que esse processo, além de inédito em sua carreira, é também incomum na vida da maioria das cantoras. “O lugar da mulher na composição e produção ainda não é posto, infelizmente. Agora a gente conseguiu dar um passo, mais consciente, rumo a outro pensamento, outro jeito de compor e produzir”, disse a artista.

Fernanda também perguntou sobre a composição “Benta”, do álbum Sal. Uma canção sobre a maternidade, “Benta” foi composta por Anelis, Céu e Thalma de Freitas, sendo iniciada por Céu em seu período de puerpério e depois acrescentada – pelas também mães – Anelis e Thalma, falando sobre as suas perspectivas.

Luedji Luna, que na época havia também acabado de ter seu filho, foi chamada para produzir a faixa, cuja sensibilidade “caiu como uma luva” para a canção. Anelis nos falou que o processo de produção dessa música criou certa rede de apoio entre as elas, principalmente pelo fato de ela ter sido feita durante a pandemia.

Foto: Felipe Maciel

Depois, eu perguntei para Anelis sobre o processo de levar o álbum para o palco. Ela me conta que a banda dela mudou um pouco do Taurina (seu álbum anterior, lançado em 2018) para o Sal, mas que foi pouca coisa.  

“Até mesmo musicalmente, ele não é um disco que é um rompante musical ou uma mudança de trajetória na pesquisa musical. Porque foi um corte seco na turnê de Taurina com a pandemia, a hora que a gente ia começar a fazer shows e tudo. Então eu ainda tava muito com esse disco dentro de mim. Eu fico brincando que, se não se chamasse Sal, o álbum iria se chamar Capricórnio, porque é meu ascendente” disse ela, sendo taurina como seu álbum.

Anelis me fala que esse disco faz parte de uma “trajetória bem linear” em relação ao que já vinha fazendo, e então pergunto se essa trajetória acontece desde o primeiro álbum, e ela afirma que sim. Nessa hora, ela coloca a mão no meu ombro e diz: “é porque realmente eu sou taurina, sou muito lenta para mudanças” e, depois de rir, complementa: “eu acho que mudei pra caramba, mas não mudou nada demais, uma coisa ali, um detalhe e tal, mas claro que isso já faz muita diferença. Eu quis também trazer um pouco mais de racialidade nesse álbum, um pensamento mais frio da coisa, mais consciente, mais mulheres, mais presença feminina. Então, nesse ponto, a gente faz um movimento e mexe com as peças do tabuleiro.”

Foto: Felipe Maciel

Liderado pelas canções de seu trabalho mais recente, o show de Anelis também passeou por repertório de todos os outros álbuns da cantora, fazendo jus a sua afirmação sobre a trajetória de sua discografia.

Sempre tendo o reggae como pilar de sua sonoridade, Anelis valida essa sua referência quando, ao fim do show, executa um mashup de Peter Tosh com “Cabeça de Gelo”, de Shalon Israel, popularizada pelo DJ Cleiton Rasta.

Na entrevista, perguntei para ela sobre a importância de artistas independentes rodarem o Brasil, movimentando tanto as cidades que os recebem quanto a própria percepção do artista sobre o seu público e seu país. Ela responde que isso é algo fundamental e que deveria acontecer cada vez mais. “Eu não sei como é que a gente vai dar conta, porque a produção é muito grande, a gente tem hoje uma produção independente gigante, muito plural, muito maravilhosa, com pessoas inventivas, criando movimentos de fato, então a gente vai ter que se juntar, vai ter que fazer isso junto, coletivamente”, diz Anelis.

Sobre a estrutura dos festivais, cada vez mais popularizados em nosso país, Anelis vê nisso um suporte para a arte independente. “A gente vive uma era muito mais democrática, então as pessoas podem conhecer meu trabalho porque existe a internet, mas é importante a possibilidade de estar fisicamente, materialmente nos espaços e poder entender como bate o som, ver até onde faz sentido. Porque a música é também um estado de poesia, e aí as vezes a gente precisa também se entender: eu não sou uma artista de festivais, não tenho essa cultura na minha trajetória, então é importante pra mim também, eu tô achando maravilhoso entender como é essa troca em um dia que tem tantos outros artistas, como é que a gente tem que estar no palco. É muito diferente de um teatro, é muito diferente de um show que é só seu, que as pessoas foram só ver você. E é um diferente muito bom, é desafiador pro bem, é aí que a gente cresce e se fortalece junto mesmo. Festivais com line-ups plurais é o Brasil, é o que a gente é! estou contente!”

A gente também ficou bem contente com seu show e esse papo, viu Anelis?

Foto: Felipe Maciel

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