Conversamos com Novíssimo Edgar sobre seu primeiro livro: “RAGDE”.
Conversamos com Novíssimo Edgar sobre seu primeiro livro: “RAGDE”.

Conversamos com Novíssimo Edgar sobre seu primeiro livro: “RAGDE”.

O álbum “Ultrassom” (2018), as aparições em canções de Elza Soares (“Exu nas escolas”, 2018), Tulipa Ruiz e João Donato (“Manjericão”, 2019), Baiana System (“Sonar”, 2019) e múltiplos trabalhos que, além da música, incluem performance, artes visuais, moda e cinema, mostram que Novíssimo Edgar é uma personalidade que merece a atenção que vem conquistando em cada circuito em que transita. Em todos eles, merecia até mais.

Novíssimo Edgar

E outra prova disso se dá no nosso ano de 2021, onde, além de lançar o ótimo álbum “Ultraleve”, Edgar faz sua estreia no mundo literário com a obra de ficção-científica-especulativa “RAGDE”, que está em processo de pré-venda até dia 10 de setembro no site:

https://www.leiagarupa.com/novissimoedgar 

Capa do livro “RAGDE”, de Novíssimo Edgar

Para saber um pouco mais sobre a nova empreitada desse constantemente novíssimo produtor artístico, conversei com ele por áudios de Whatsapp para aprofundar os assuntos referentes ao seu livro e tudo mais que o envolve.

Rustrin, personagem do livro

Edgar, eu que te conheci a partir do seu trabalho na música, sempre entendi o seu discurso como uma espécie de crônica/comentário da sociedade brasileira. Sendo assim, visto a qualidade do seu texto, você estar lançando um livro não é bem uma surpresa, mas achei muito interessante isso ser feito utilizando um formato de ficção científica. Mesmo existindo essa tradição desse gênero em abordar distopias, a ideia de transpor o Brasil para um cenário fictício como forma de apontar os seus arquétipos também foi usada em crônica por Lima Barreto no livro “Os Bruzundangas”. O seu livro pode ser entendido como um híbrido disso? Um comentário político inserido na ficção científica?

Pode ser sim tratado como um híbrido. Eu tenho falado “ficção especulativa”, porque estou especulando algumas coisas que acontecem na nossa realidade contemporânea, futura, tanto faz, tá intrínseco ali. Essa subjetividade que as palavras, nome/mantras dos personagens apresentam fazem essa dança da realidade, né? É o que é a ficção pra mim. Esses nomes personificam um outro corpo em uma outra dimensão e tal, mas se a gente troca, se a gente substitui os nomes dos personagens por palavras como “democracia”, “aula de filosofia”, o presidente atual, etc, cria-se um outro rumo pro texto.

Como foi idealizar um trabalho na literatura? E como você entende esse processo dele ter surgido agora? Depois de você já ter trabalhado em diversas esferas, como a música, moda e o próprio cinema, que tem como essência englobar as demais artes. Qual a importância desse trabalho estar em livro?

A importância do trabalho estar dentro de um livro acho que é a probabilidade de quase eternização, sabe? Tem livro do Fanon de 1952 e que tá aí por 200 reais pra você comprar. Tem livro do Machado de Assis, sabe? Essa possibilidade de conseguir se cristalizar em uma obra e você ter uma troca de ideia com o autor, porque eu vejo o livro como isso: é uma sala onde eu sento com o autor e ele conta a história pra mim e eu consigo ouvir. Ler um livro da Conceição Evaristo é muito isso, sentar numa sala com ela e escutar as vozes. Então, a importância dessa obra estar dentro de um livro é trazer essa possibilidade dela ser desdobrada por outras pessoas em outras épocas, né? Ela pode ser adaptada pra um roteiro de cinema, ou de teatro. Quando se tem esse escape de livro, você adentra também em lugares que a minha outra arte não conseguiria ir, que são bibliotecas, sei lá… o Museu da Língua Portuguesa, um Festival FLIP (Feira Literária de Parati) da vida, sabe? Então tem um outro circuito que eu acho muito interessante e que sempre dialogou comigo, né? Porque eu entrei na música a partir das composições que eu fazia, e eu comecei a fazer composição a partir de um prêmio de redação que eu ganhei numa prova de escola. Então sempre foi a base literária a minha estrutura. Até pra mim fazer um desenho, às vezes eu escrevo o que eu quero do desenho, é uma maneira de mapear essas sensações e também criações. É o jeito de anotar receitas, fórmulas… até a própria música em si, a partitura é a parte literária da música, sabe? Você escrever a música com sua linguagem própria, com seus símbolos. Então eu acho que é um desdobramento, mas parte de uma base estrutural, sempre foi intrínseco a literatura pra mim. Por isso é importante existir uma obra física dela também.

Conte um pouco mais sobre como foi a concepção do conceito e dos nomes do livro, tanto os planetas e as galáxias (Radge, Millitarius), quanto dos personagens (Esetoren, Gegoroc). Como surge a ideia de situar a história nesse espaço intergalático?

A ideia não surge de trazer um paralelismo com a realidade atual, ela foi entrando nisso. Quando eu escrevi, em 2017, não tinha uma premeditação de um Bolsonaro, de uma coisa assim, quando eu escrevi era um clima meio Temer no ar. Mas só que as coisas se repetem, a história se repete. Por isso que eu digo que quando você pega os nomes dos personagens, por exemplo, e troca por palavras-chaves, o rumo da história muda completamente. Você pega o Gegoroc e coloca o atual presidente, a história tem outra conotação, outro corpo. RAGDE, de trás pra frente vira Edgar, se você lê como se o multiverso dele fosse, ao invés de um macro com galáxias e um sistema solar todo pra fora do planeta Terra, você imaginar no micro, pra dentro do corpo Edgar e as tropas e células como se fosse o corpo funcionando em si, também tem essa observação. Então é o universo observável pelo campo imaginário, sabe? Por isso que acaba caindo numa ficção, mas pra mim ele é um ensaio de si mesmo, com outras palavras, pra não ficar uma dança egoica. Daí tem essa pluralidade, de outros personagens, personificação de planetas e outros lugares.

Gegoroc, personagem do livro

Uma coisa que me chamou atenção lendo sobre o projeto desse livro foi a inclusão de fotos para apresentar os personagens através de figurinos pensados justamente para isso. Conte um pouco como foi desenvolver essa célula do trabalho.

É engraçado pensar que as imagens vieram depois, ou alguma coisa assim. Porque na verdade o livro só existe porque existem essas imagens, só existe história porque existem esses personagens. Eles chegaram primeiro pra mim em um processo de artes plásticas que eu tava fazendo, figurinos e tudo mais. Então comecei a criar essas máscaras e tal, e a partir delas, do nome delas, do planeta delas, eu comecei a escutar essas histórias e comecei a escrever e foi agrupando esse material de desenho, rascunho, essa escrita de cada planeta e os personagens. Depois, em 2017, eu pego todo esse agrupado do livro que eu tinha manuscrito e começo a digitalizar e pensar em como englobar tudo na mesma narrativa, e aí amarro a história com Esetoren e a coisa vai fluindo. Mas os personagens vêm primeiro, as fotografias e tudo mais. 

O livro está sendo lançado por duas editoras, a Garupa, do Rio de Janeiro, e a Editora Editora, de Florianópolis. Como surge teu contato com elas e como isso se desenvolveu até chegar nesse lançamento?

Da Garupa, a Ju eu conheço desde antes de 2018. 2017 ou 16, por aí, na Off Flip, lá em Parati, Rio de Janeiro, através do poeta Caco Pontes. Ela virou super amiga e tal, mas a gente nunca tinha trabalhado junto. Da Editora Editora, a Gabi Bresola eu conheci fazendo uma live do Instagram vendendo umas obras minhas, ela comprou uma máscara e eu fui até Florianópolis entregar pra ela e conhecer ela pessoalmente. E aí eu descobri que ela tinha a Editora e aí começamos a trocar bastante ideia. Eu lembro que no período que eu tava lá em Florianópolis eu escrevi um livro pra gente lançar pela Editora, aí ela ficou de cara, falou “não acredito!” e aí eu falei que já tinha o “RAGDE” escrito também, ela pediu pra ler, eu enviei e a gente começou a fazer essa collab e começou a surgir essa simbiose harmônica .

Ranugen, personagem do livro

E para fechar: fale sobre como está a pré-venda do livro e os próximos passos desse lançamento.

O próximo passo é fazer algumas promoções que já estão se encaminhando no site da Editora (leiagarupa.com/novissimoedgar). Tá sendo alguns livros autografados; dependendo da compra você ganha um CD do álbum “Ultraleve”, disco novo que eu lancei; Você compra o livro e pode ganhar também um cartaz específico, surpresa; um print pra você emoldurar; também ganha o Baralho Ragde que eu fiz; várias surpresinhas e várias promoções ali que vão acontecendo dentro do site da Garupa.

O outro próximo passo também é fazer uma outra promoção meio relâmpago-surpresa próximo das últimas semanas de venda.

E a proposta é exatamente essa, ir transformando num projeto físico, pra folhear, sentir o cheiro da impressão, conseguir emprestar pra uma outra pessoa, colocar em baixo do travesseiro pra dormir e ver se sonha com as imagens do livro, com as ações que acontecem naquele universo. É exatamente a possibilidade de construir aquela sala que eu falei pra você, e eu como autor receber visitas e contar essas histórias que acontecem dentro e fora de mim simultaneamente. Então, a ajuda que eu peço pra conseguir dar uma guinada que a gente tá precisando nessa pré-venda e garantir mais livros é pra gente conseguir um número maior e continuar repassando e inserindo essa obra em vários campos literários, tanto em busca de premiações ou feiras. A gente já tá pensando também em traduções para esse livro, esse é um próximo passo também.

A única coisa que me entristece às vezes, me dá uma agonia, é que se eu não conseguir realizar isso, quem perde não sou eu, quem perde é o público brasileiro, quem perde é a arte brasileira, são meus amigos, a galera daqui, são os fãs, são as pessoas que compraram meu trabalho. Porque, que nem eu disse, a gente tá pensando já em fazer uma tradução pra inglês e tal e isso vira um outro tipo de circulação, vira NFT, vira criptomoeda viajando pelo metaverso, então gera uma outra possibilidade de circulação, sabe? Fora do território brasileiro. Mas a meta é ser daqui, fazer acontecer daqui, pra galera daqui ter essa especulação sobre a realidade, a partir de uma suposta ficção. E ela impressa vira uma sala mesmo, um lugar seguro onde a gente pode visitar de vez em quando e chamar algumas pessoas que a gente gosta pra compartilhar.

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