Com um breve distanciamento histórico, “O Caçador de Androides” de Yannick Hara já tem sua mensagem ampliada
Com um breve distanciamento histórico, “O Caçador de Androides” de Yannick Hara já tem sua mensagem ampliada

Com um breve distanciamento histórico, “O Caçador de Androides” de Yannick Hara já tem sua mensagem ampliada

Por Renan Bernardi

Lançada em novembro de 2019, O Caçador de Androides é o segundo álbum do rapper Yannick Hara que acaba de completar meio ano.

Tomando como norte o livro “Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?” de Phillip K. Dick, que serviu de referência para o filme Blade Runner, Yannick Hara cria um trabalho conceitual que mostra como a distopia de Phillip acaba conversando diretamente com a realidade da “evolução” de nossa sociedade.

Com esse propósito cyberpunk e futurista, o rapper une o hip hop ao hardcore punk e spoken-word para construção de uma mensagem agressiva, mas também complexa e reflexiva, unindo e comparando a ficção com a realidade e deixando claro: a distopia está no nosso dia a dia.

E para tornar essa análise a mais abrangente possível, Yannick conta com várias participações que somam à sua linguagem e diversificam as mensagens de cada uma das canções.

Entre eles, Rafael Carnevalli canta a primeira faixa, que já é chamada de “Blade Runner”, dando início ao conceito do álbum.

Na sequência, “O Prólogo e o Título” conta com Clemente Nascimento d’Os Inocentes, clássica banda de punk-rock paulista.

“Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas” dá o tom definitivo do álbum, onde Yannick é acompanhado de Moah, NDK e da dupla Keops & Raony (que também fazem parte da banda Medulla).

A quarta faixa é “Voight Kampff”, nome do teste científico-psicológico presente na obra de Phillip e que aqui é apresentado como o primeiro momento mais melancólico do álbum.

“Eu Quero Mais Vida Pai” mantém o clima lamentoso e onírico da faixa anterior, contando com uma boa participação de Sara Não Tem Nome.

Depois desses momentos que, mesmo destoando, ainda complementam o trabalho do álbum, “Lágrimas de Chuva” retoma a abordagem agressiva com a participação de ninguém menos que Rodrigo Lima, vocalista da banda Dead Fish e trazendo um trecho do clássico “Jesus Chorou” dos Racionais MC’s para montar o seu refrão.

As análises entre a obra de Phillip Dick e da realidade do mundo globalizado continuam sendo pontuadas em “Replicantes”, “Sapper Morton” (para mim, uma das melhores faixas do álbum), “A Ideal Mão de Obra Escrava”, “Eu Sei O Que É Real”, “Caótico Distópico” e em “O Artificial”, que fecha o álbum com a participação do rapper Cronixta.

Meio ano após seu lançamento, O Caçador de Androides tem sua mensagem renovada e fazendo ainda mais sentido com a realidade distópica em que vivemos, podendo ser interpretada de outras formas e com novas referências.

Essa capacidade de reanalisar uma obra com um distanciamento histórico – mesmo que bem recente – mostra que o seu conteúdo, além de ser muito preciso na época de seu lançamento, ainda conta com subtextos de possibilidades que nem o próprio Yannick imaginaria ter.

Afinal, ainda vivemos caçando androides e robôs fascistóides em nosso dia a dia, mas agora as ações destes botam a vida à prova de maneira direta e ainda mais agressiva e ignorante, mostrando a potencialidade de destruição comandada por certo bunker digital.

A distopia está aí, cada dia é mais claro de ver.

Ouça O Caçador de Androides no Spotify:

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