
Depois de algumas apresentações que conquistaram a atenção do público e elogios da crítica, em maio de 2010, Tulipa Ruiz lançou “Efêmera”, disco que fez sua voz e suas belas canções serem ouvidas em todo Brasil e ao redor do mundo.
Seu segundo, “Tudo Tanto”, saiu em 2012, desenhando seu nome, corpo e talento no cenário musical.
Em 2015, Tulipa lançou “Dancê”, como o título sugere, com um som mais dançante. O álbum foi indicado ao Grammy Latino, vencendo na categoria “Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro”.
Em entrevista concedida no início do ano, Tulipa Ruiz conta um pouco sobre sua carreira e a produção e recepção do seu novo álbum, “TU”, lançado no final de 2017:
Em novembro do ano passado você lançou o “TU”, um disco com menos instrumental, porém sem deixar de ser rico em melodia. Como surgiu a ideia deste disco?
A ideia do disco nasceu a partir de uma gira que fizemos voz e violão, formato que eu gosto de chamar de “nude”, porque é como se as músicas estivessem peladas. Tocar as músicas desse jeito nos aproximou da espinha dorsal de cada canção. E fiquei com vontade de gravá-las assim: um violão, uma voz e algumas poucas percussões.
A princípio seria lançado apenas nas plataformas digitais, mas vocês acabaram lançando em CD, a pedidos dos fãs. O que tu acha disso? Acha que o CD e o Vinil ainda respirarão por algum tempo? E qual é tua relação com estes formatos?
Sim, o lançamento seria digital. Mas as pessoas começaram a perguntar do CD, o que me surpreendeu. Já estamos na segunda prensagem do TU. Em relação ao vinil, eu gosto de vinil, do ritual que é ouvir um vinil, sou apaixonada por capa de disco. Prensei o CD porque meu público pediu e o vinil sempre vou fazer por romantismo. Além disso, o artista tem que estar disponível em todos os formatos, porque existem consumidores para isso. Tem a pessoa que só escuta o formato digital, a que coleciona vinil e a que compra CD em show.
Você trabalha com o seu irmão, Gustavo Ruiz, e com seu pai, Luiz Chagas. Como é trabalhar em família? Como aconteceu esta junção familiar?
Minha mãe foi atriz e meu pai guitarrista. Meu irmão brinca com o violão desde pequeno. O diálogo musical vem desde antes da gente nascer. Nas minhas primeiras memórias a vitrola já estava ligada. Minha família é musical, curte som, show, disco, instrumento. Na intimidade familiar é assim. Depois, bem depois, é que foi para o palco e estúdios.

Como é o teu processo de criação para a música e para o desenho?
Depende. A criação pode vir de um momento mágico e subjetivo, como também pode ser um exercício. Às vezes começo no violão e a partir de uma harmonia penso na melodia ou na letra. Outras vezes escrevo primeiro ou penso em um tema. Nunca o processo vem do mesmo jeito. Com o desenho também varia. As únicas coisas que se repetem são as ferramentas ao redor: papel, canetas, violão e um computador com Garage Band.
Qual foi a critica construtiva ou acontecimento marcante que fez mudar a tua vida?
Sou filha de crítico musical, então de alguma forma isso me anestesia um pouco. Não me deslumbro tanto com os elogios e nem me deprimo com as críticas ou comparações. As comparações sempre vão existir. A pessoa precisa te decupar para te entender, é uma necessidade do ser humano.
Você já fez vários shows pela Europa e América Latina. Como é tocar fora do país?
Efêmera entrou para o game Fifa e o álbum foi considerado um dos melhores álbuns pops pelo jornal inglês The Independent, o Dancê ganhou o Grammy Latino. Essas coisas despertam o interesse do público e da mídia fora do país. Já toquei em muitos lugares na Europa, Ásia e América. Por conta da barreira linguística eu tento me comunicar com gestos e articulações de palavras o máximo que posso. O público percebe isso e rompe a barreira da língua também. Existe uma troca. Normalmente eu digo que todo artista no exterior é uma espécie de embaixador de seu país.
Quanto do ‘ser Tulipa’ está nos traços de cada desenho das capas dos teus discos?
Muito. Meus desenhos são desdobramentos gráficos do meu estado de espírito.
Como a internet beneficia a divulgação do teu trabalho?
A divulgação do meu trabalho começou no digital e por conta disso consegui fazer um disco físico e um maior número de pessoas teve acesso ao meu som. As lojas físicas já não são mais tão expressivas como antigamente, a maioria fechou por conta do consumo digital. O trabalho do artista hoje tem que estar presente na internet. As prateleiras e o público migraram para lá.
Qual é a tua percepção sobre o cenário musical brasileiro atualmente? Que conselho você daria para um artista que está começando?
A produção artística borbulha quando um país está em crise. Por necessidade de expressão e catarse. Estamos vivendo uma disputa de narrativas completamente arquitetada pelos meios de comunicação e por quem está no poder. Prefiro ter como bússola quem está fazendo música, poesia, grafite, pixo, escultura, bordado porque a arte me dá munição para lidar com o agora. A produção artística no Brasil anda a mil, vide a quantidade de discos, livros e shows inventados do ano passado para cá. É só buscar, porque a maior parte o jornal não mostra. Para um artista que está começando aconselho observar a cena que se identifica e mapear pessoas, casas de show, festivais, produtores, rádios, sites de música, jornalistas apaixonados e tentar contato (pelas próprias redes sociais) para apresentar sua música.
Para você, o que é mais efêmero nesta vida? E hoje, depois de 8 anos do lançamento de ‘Efêmera’, o que você mais deseja que nunca acabe?
O que é mais efêmero na minha vida é o agora. E também desejo que ele nunca acabe.
Para 2018, o que vem de novas produções?
Finalizo a turnê do Dancê, faço shows do TU, meu novo disco, e videoclipes também.