Magnólia Festival: Cloud Nothings no lugar estranho

Foto: Carlos Eduardo Pereira

Por Ana Paula Dornelles e Carlos Eduardo Pereira

A quarta edição do Magnólia Festival trouxe para Chapecó a banda Cloud Nothings. “Provavelmente a maior ousadia do interior, desde que o Pavement tocou em Londrina e o Fugazzi em Piracicaba”, anunciaram os organizadores antes do evento. E foi, ousado até demais, para o público de Chapecó. Infelizmente, poucas pessoas viram os sete shows que integravam o line up do evento, que pôde ser retratado muito bem com a música “Chapecó”, da Banda Repolho, segundo show da noite.

“E ficam todos se olhando com umas cara de bundão
Nada acontece não tem nada prá fazê
Você olha prá mim e eu olho prá você
Assim é a cidade a cidade é Chapecó”

Cervejas artesanais, área de conforto e gastronomia complementavam as atrações do Festival. Além do ingresso “muito alto” (não tanto, se levar em conta o número de bandas), era preciso pagar R$ 20 reais de estacionamento do Complexo Amazon e R$ 10 reais pra beber uma cerveja. Fora isso, a organização está de parabéns.

“De repente pinta um lance vamô se mexê
O lance é de cabeça você não póde perdê
Pintou uma boate é aquela sensação
O ingresso é muito alto assim não tem condição
O ingresso é muito alto assim não tem condição
E os pelado tem que entra de ratão”

O Festival iniciou na hora prevista. A banda Frankenchrist, de Chapecó, que possui dois EPs lançados, foi a primeira a subir ao palco. Às 20h15min, o público ainda era mínimo. O que já era de se esperar por ser uma sexta-feira, no horário em que grande parte da galera ainda está na faculdade ou trabalho. Mas quem esteve presente, viu um show explosivo e melancólico ao mesmo tempo.

Formada por Gabriel N. Andreolli (guitarra/ vocal), Gustavo Nunes Baez (baixo) e Rafael Panegalli (bateria), a banda explora a poesia de letra e a guitarra da música triste desgrenhada, representada em sub-gêneros como shoegaze, noise pop e post punk.

Fotos: Eduardo Chagas

A Banda Repolho, responsável pelo hino de Chapecó, também se apresentou, fazendo um som, como sempre, contagiante. A banda é formada por Roberto Panarotto (voz), Demétrio Panarotto (guitarra/voz), Nelson Akira Fukai (baixo) e Anderson Birde Gambatto (bateria).

A Terno Rei, de São Paulo, fez um show acanhado, mas perfeito para o som da banda. Com melodias memorizáveis e letras que retratam relacionamentos, a Terno fez uma das melhores apresentações da noite. O repertório contou com músicas do disco “Violeta“, lançado em janeiro e já considerado um dos melhores do ano.

Diretamente de Porto Alegre, a Dingo Bells tocou músicas do seu mais recente trabalho, lançado em 2018, o “Todo Mundo Vai Mudar”. Mas a banda também não deixou de lado outros clássicos, como o hit “Dinossauros”.

Sem sombra de dúvidas foi a banda que mais instigou os timbres desafinados, mas empolgados, do público. Resumindo: um show carregado de sentimentos.

Mas claro que, como já era de se esperar, a atração principal foi a banda gringa Cloud Nothings, de Cleveland. Liderada por Dylan Baldi, o show em Chapecó, foi a primeira apresentação da banda no Brasil. No dia seguinte, se apresentou em São Paulo. Lá, segundo a matéria do site Scream & Yell, Baldi comentou o show em terra chapecoense: “That’s a weird place!” (Esse é um lugar estranho), disse, se referindo, talvez, ao público que demonstrou pouca empolgação ao show deles e que, ao mesmo tempo, assistiu a um show pouco empolgante – até porque ninguém é obrigado a conhecer todas as bandas gringas, por mais status que o estrangeiro tenha.


A Cloud Nothings possui cinco discos lançados, dois com mais ênfase na história do indie rock desta década: Attack on Memory (2012) e Here and Nowhere Else (2014). Em outubro do ano passado, a banda lançou seu quinto álbum, Last Building Burn.

Na sequência, Defalla, a clássica banda da primeira geração do rock gaúcho que explodiu nacionalmente nos anos 80, subiu ao palco e apresentou os hits “Popozuda RocknRoll” e “Amanda”, além de vários covers de funk em versão roqueira.

Show que o vocalista Edu K, terminou antes para que a Disaster Cities tivesse tempo de tocar antes que todo mundo fosse embora.

Quem ficou até o fim pode ver um show de uma banda que tem tudo para ter mais sucesso do que já está tendo. A galera que ainda tinha ânimo para curtir, com certeza, assistiu ao melhor show da noite, à frente, inclusive, da atração de Cleveland.

A banda, integrada por Matheus Andrighi (vocal/guitarra), Rafael Paneggali (vocal/baixo), Daniel Bacon (bateria) e Vinicius Cripa (teclado),  fez seu primeiro show em Chapecó, terra natal de Matheus, Rafael e Vinicius, que foram para São Paulo com a intenção de conquistar a visibilidade merecida. Este ano, a banda lançou o primeiro álbum: “LOWA“.

Fotos: Carlos Eduardo Pereira

Sobre o Festival

O Magnólia Festival / Ventura Sounds foi criado em 2017, em Chapecó, como alternativa para a cidade que quase não recebia shows desta nova fase da música brasileira. “A maior parte dos artistas que vinham ao sul, acabavam por fazer a rota do Atlântico, não chegando até o oeste catarinense. Desta necessidade, nós surgimos”, contam os organizadores.

Neste um ano de trabalho, o festival trouxe bandas dos mais variados estilos. Funk, eletrônico, pop, indie, MPB e rock são algumas das vertentes que já se apresentaram nos palcos chapecoenses: Boogarins (GO), Francisco El Hombre (SP), Selvagens à Procura de Lei (CE), Heavy Baile (RJ), Carne Doce (GO), Colleen Green (USA) Supervão (RS), Frabin (FLN), Subburbia (PR). Além das atrações locais: John Filme, Amanda Cadore, Carlota Joaquina, Carpanos e Frankenchrist.

“Fomentar a cultura musical local é uma de nossas entregas. Não apenas trazer bandas de fora, mas colocá-las em contato com os agentes de fora. Sair da ilha local e construir essa ponte”.

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