Um ano depois da Ilha de Calor: Conversamos com XxJasperxX sobre o aniversário de seu álbum de estreia
Um ano depois da Ilha de Calor: Conversamos com XxJasperxX sobre o aniversário de seu álbum de estreia

Um ano depois da Ilha de Calor: Conversamos com XxJasperxX sobre o aniversário de seu álbum de estreia

Por Renan Bernardi

No dia 07/07 de 2022, a multiartista XxJasperxX lançou seu álbum de estreia chamado Ilha de Calor. Amarrando conceitos socioambientais e pautas queer através de seu olhar e experiência subjetiva, o trabalho se debruça nas sonoridades de hyperpop, pc music, funk paulista, trap e drill através da produção que Matheus Bonora e Francisco Faganello fizeram no Estúdio do Léo, em Chapecó.

Um ano após esse lançamento, a artista vê que a comunidade queer chapecoense fez valer o seu recado. “A comunidade em que eu coloquei como público quando compus e me expressei nesse álbum acho que entendeu os conceitos, sempre conversam comigo sobre o que eu quis passar, sentem as mesmas dores. Porque eu realmente não fiz esse álbum só pra mim, e sim pra essa microcomunidade que a gente tem aqui, para nós”, nos conta a artista, que também diz que esses retornos têm possibilitado novas interpretações sobre o álbum. “Eu vejo as pessoas interpretando minhas músicas de maneiras diferentes daquilo que propus ao gravar. E não vejo nenhum problema nisso, porque a arte ela tem isso da mensagem passada pelo artista, mas as pessoas vão interpretar certo, errado, diferente, de outro jeito, de ponta-cabeça, do jeito que for. As pessoas me falam, me contam o que elas acham e eu acho muito legal.”

O conceito de Ilha de Calor envolve uma crítica ao projeto opressivo de cidade que se impõe no Brasil e que, em cidades provincianas e conservadoras como Chapecó, se intensifica violentamente. Por isso, Jasper assume que existe uma interpretação sobre o título do álbum que ela acaba achando engraçada. “A única coisa que me faz rir é quando as pessoas me perguntam se a Ilha de Calor é Florianópolis. Eu acho isso tão comédia, porque ok: as pessoas daqui podem associar diretamente a palavra ‘ilha’ com floripa, mas acho que isso mostra o quão centralizadas são essas visões, meio que achando que eu teria que estar lá, na capital, pra estar fazendo algo foda. Eu acho que isso expõe um pouco da cabeça centrada e essa mentalidade que reduz a criatividade e arte aos grandes centros.”

Nesse ano pós-lançamento, Jasper atuou em diferentes ações artísticas na cidade: foi selecionada como artista local para participar do Festival Magnólia em agosto de 2022; lançou um álbum de remixes de seu debut (chamado Dance Hysteria) incluindo diversos artistas da cena hyperpop/pc music do Brasil e do mundo; e ajudou a organizar o OcupaDrag, um evento que, além de divulgar o trabalho de Drag Queens e Drag Kings em Chapecó, também buscava conscientizar artistas e público sobre a falta de visibilidade e remuneração para os seus trabalhos.

É interessante notar que, por mais social que seu trabalho se apresente e se ramifique nas ações da artista ao longo desse ano, é justamente o seu cunho pessoal que faz dele um álbum tão potente, que envolve as pessoas que também sentem os meus problemas na pele. “Eu acredito que todas as canções foram muito pessoais. Porque, apesar de serem problemas que não sou só eu que passo, até porque não acredito em problemas exclusivos, sei que os problemas também são passados por outras pessoas. Acredito que todas elas (as músicas) me ajudaram naquele momento difícil que foi quando eu estava compondo.”

Para Jasper, o ciclo de Ilha de Calor está se fechando nesse seu primeiro aniversário. “Foi um momento que eu me isolei muito das pessoas e da região e percebi as coisas que eu fazia não iam me levar a algum lugar, alcançar algum tipo de expressão que eu buscava. Então eu fiz um detox enorme na minha pessoa e no meu trabalho pra ser mais original, ser mais eu mesma, não depender tanto de referências externas, tanto artísticas como de relacionamentos pessoais. Quando eu escuto as músicas, eu ainda gosto delas, só que eu vejo que foi muito mais um resgate do que me foi negado, sabe? Coisas que eu precisava falar. Eu me identifico, gosto, mas eu tô pronta pra seguir em frente.”

E essa sequência de seu trabalho já tem um rumo começando a ser construído. “Eu percebi que, mesmo tendo feito esse álbum com muita angustia, eu o fiz por não aguentar mais ser tão subestimada, ser tão avulsa como artista. Eu precisava de algo pra me jogar com dois pés na porta, pra não só mostrar pra cena, mas também pra mostrar pra mim que eu posso fazer, posso criar. Então a minha percepção é que agora, nos meus próximos projetos, eu vou fazer as coisas com muito mais calma e destreza. Algo que não seja somente na força do ódio.”

“O futuro de XxJasperxX é algo bem mais organizado, com mais clareza e seguindo os mesmos princípios de quem eu sou, do que que eu quero expressar, do que que eu quero criar e desenvolver. Mas, com muito mais planejamento e muito mais apoio. Uma coisa que esse álbum me mostrou foi que eu consigo encontrar pessoas dispostas a me apoiar e espaços, dentro ou fora dessa cidade, que me permitam conseguir o que eu quero e chegar aonde quero estar.”

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