
Foto: Reprodução
Por Renan Bernardi
MONCHMONCH é a persona artística de Lucas Monch que, mais do que duplicar seu sobrenome, busca evidenciar através da onomatopeia de uma mordida/mastigação (monchmonchmonchmonch) o seu processo de devoração e aglutinação de referências.
Esse processo antropofágico, no caso de Monch, mastiga o rock alternativo, o punk e a música experimental de maneira violenta e visceral, fazendo jus ao ambiente sujo e degenerado de São Paulo, onde ele habita.
Como parte da divulgação de seu álbum de estreia, Guardilha Espanca Tato, MONCHMONCH lança agora, exclusivamente pela Revista Artemísia, o clipe de “Ruínas”: uma canção síntese da sonoridade, estética e espírito do álbum.
E, para fazer sentido com essas características da canção e do trabalho como um todo, o clipe carrega todas as vísceras imundas da cidade paulista, sendo habitado no lugar mais propício possível para tal ato.
Estamos falando, é claro, do Rio Tietê, onde Lucas resolveu se jogar (literalmente) na lama desse esgoto a céu aberto.
Com referência direta ao curta “A Estória de Clara Crocodilo”, dirigido por Maria Cristina Santeiro (realizado como divulgação do álbum Clara Crocodilo, de Arrigo Barnabé), o clipe de “Ruínas” foi feito com fotografia de Rodrigo Ribeyro e edição de Julie Dias.
Para sabermos mais sobre a produção do clipe e também do álbum que o envolve, entrevistamos Lucas Monch pelo WhatsApp. Confira como foi essa conversa:
– Antes de falarmos do clipe, vamos entender um pouco mais sobre o som de “Ruínas”. Em entrevista para o Kimané Talk, você diz que a produção dessa faixa gerou a sonoridade que foi definir o álbum Guardilha Espanca Tato e consolidá-lo. Por que você vê “Ruínas” dessa forma?
Monch: A Guardilha Espanca Tato foi esse momento pandêmico em que o mundo estava ruindo na maligna onda necropolitica.
Toda a sociedade em colapso, “aponta o dedo sujo na testa dos terríveis”, vi a imagem de uma figura endeusada numa torre apontando para a pequenas criaturas que a olhavam de baixo.
Mas, como um espelho, a imagem-semelhança de Deus é suja, horrenda e decadente.
No processo de escrita da música, aconteceram fenômenos coincidentemente mágicos. Quando a toquei pela primeira vez, no momento que comecei a tocar a música começou a garoar rapidamente, entrei num transe com a chuva, e inacreditavelmente, no exato momento que eu entrei no refrão da música, depois da virada de guitarra, um trovão cai, no exato segundo da mudança.
E acho que a música sintetiza isto do álbum. No fim, o álbum termina em merda, citando Rita Lee: “tudo vira bosta”.
No fim toda nossa arrogância, em algum momento cai por terra. A natureza é mortífera e no fim a torre sempre cai.
– Agora, para falarmos do clipe, creio que há uma ligação muito bem feita entre a letra (que indica um império em decadência) com a imagem (você se sujando na mais pura demonstração da decadência de nossa sociedade: um esgoto a céu aberto no centro da maior cidade da América do Sul). Como foi criado o conceito desse clipe e essas ligações?
Monch: Acho que respondi um tanto aqui em cima, mas complementando: pular no rio, dançar na sujeira, foi me colocar nesse ritual de queda, se jogar nessa decadência humana, dançar no nosso grotesco para ser espancado no final.
Eu acho que é um pouco tudo isso. O conceito do clipe vem com essa ligação do álbum, queria conectar nossa natureza mais suja para queda da torre, se banhar na nossa sujeira.
Fiquei procurando nosso dejeto e naturalmente cai no nosso esgoto.
Onde deveria ser um rio lindo, virou um armazém de erro e merda.
– Gostaria que você também falasse um pouco sobre o processo geral de produção desse seu álbum de estreia, o Guardilha Espanca Tato. Como aconteceu esse lançamento pelo Seloki Records e como vocês o construíram juntos?
Monch: Nesses isolamentos de pandemia, existia um ciclo: eu em casa sozinho compondo e gravando demos no zap. E, eu ficando semanas junto com a banda, arranjando a orquestra, saindo do formato violão e voz para o megazord.
Mas, no geral, somos figuras independentes, quem me produz sou eu mesmo. Digo, a produção do álbum foi feita no estúdio, e eles me apoiam muito quando faz sentido. Mas, existe uma independência. Cada um está no seu barco, e a gente vai hora ou outra jogando uma munição pro outro.
Eu tomo o leme, e eles vão me auxiliando quando convém, seja em produção executiva ou artística. Tanto estúdio Mameloki (que pega mais a parte técnica da música), quanto a Seloki, que cai mais pra um caminho estético, produção, distribuição.
Eles seguem mais como um porto seguro, mas meu barco tem rumo próprio.
– Com o álbum lançado e dois clipes (além de “Ruínas”, há também os clipe de “Vampira” e “Netuno”, divulgados ainda antes do Guardilha sair) apresentados ao mundo. Quais são seus próximos passos como MONCHMONCH? Por onde mais seus dentes têm fome de mastigar?
Monch: Em cima da Guardilha, ainda tem pra sair 1 clipe (confirmado), talvez mais uns clipes pra frente, mas isso é incerto.
Tem um álbum de remixes do álbum também, com uma série de artistas fodas.
Aí pra além disso, tenho 1 EP de demos que já foi lançado na fita k7 junto com a Guardilha, mas que em breve também sai nas redes. Chama-se: Os entulhos loucos cavam sol.
Tem 1 outro álbum já mixando, Sucrilhos com Água, que foi gravado com a formação atual, que vai levar mais tempo, pois vai ter a mesma magnitude que a Guardilha: clipe, zine, pacote completo, mas que vou esperar um pouco, acredito que ano que vem sai.
Mas tô vendo ainda o melhor momento, pois em setembro me mudo pra Europa e queria lançar esse próximo material quando eu tiver todos os clipes e rede aqui e lá fora. No esquema pra tomar um passo maior.
Também tem mais alguns EPs na mesma pegada que Charlie Mordidinha Jr, na estética áudio de zapzap, alguns com músicas novas, outros com reinterpretações do Bowie que tenho feito, e outras do Nirvana. Talvez até Talking Heads hahaha. Incerto ainda hahaha mas, muitas coisas.
