
Por Renan Bernardi
Na correria de um novo trampo que acabei arrumando, quase me esqueci que o Felipe Maciel tinha me convidado para cobrir o show que a Glue Trip faria no Matura, lá no bairro do Campeche. Um rolê possibilitado pela parceria da casa com a Saravá Cultural.
Mas, nada que não pudesse ser resolvido rapidinho de um dia para o outro e, na sexta-feira (19.05), eu e Andressa fomos para o Córrego Grande encontrar o Felipe e pegar carona com nossa amiga Beatriz, que nos levou para o sul da ilha fazendo um caminho pela Trindade. Essa cidade tão grande me parece cheia de labirintos e portais que, para um reles Chico Bento como eu, ainda não fazem muito sentido.
Fato é que chegamos lá a tempo de ainda tomar alguma coisa antes do show do duo NPKN, que, por volta das 21h, abriu os trabalhos da noite com um pop rock animado, envolvendo muita interação com o público e até uns passinhos de zumba.

Foto: Felipe Maciel
Se dividindo entre uma série de instrumentos e usando samples e batidas eletrônicas programadas como base, as duas garotas entregaram muita energia no palco e também fora dele, visto que, no fim da apresentação, elas foram parar em cima do balcão do bar e, depois, no meio do público.

Foto: Felipe Maciel
A viagem colou legal lá no Campeche
Ali pelas 22h40, foi a vez da Glue Trip subir no palco. Fundada em João Pessoa-PA, a banda está completando 10 anos de estrada com seu rock-groove-psicodélico angariando cada vez mais públicos por onde passa. E, em Florianópolis, não é diferente.
Se o pessoal já se fazia presente em frente ao palco no show da NPKN, quando a Glue Trip iniciou sua apresentação, a galera colou em peso para conferir. Eu que dei uma saída depois do primeiro show, quando fui voltar para frente do palco, tive que dar aquela costurada no público para chegar lá de novo.

Foto: Felipe Maciel
Eu já tinha visto o show da banda em 2019, quando eles tocaram em Concórdia-SC como parte do Festival Grito da Terra. Naquela ocasião, eles estavam fazendo a turnê do álbum Sea At Night, lançado em 2018.
Mas, isso não quer dizer que eu tenha qualquer intimidade com os caras e, se pedi e consegui o setlist do show para trazer para essa matéria, foi por pura cara de pau mesmo.

Foto: Setlist do show da Glue Trip em Florianópolis-SC (19.05.23).
Não estou certo sobre exatamente quem mudou na formação da banda daquela ocasião para essa agora em Florianópolis, que contava com Lucas Moura nos vocais; Thiago Leal no baixo e no moog, João Boaventura nos teclados e sintetizadores; e Pedro Lacerda na bateria.
Menciono aqui essa mudança de formação, não para comparar um show com o outro, mas apenas para evidenciar que existe uma diferença entre a Glue Trip que vi em 2019, para esta de 2023. E isso não está apenas na formação.
Uma coisa que ouvi de amigos que viram ambos os shows comigo foi a percepção de que a Glue Trip parecia uma banda “gringa”, por cantar em inglês de maneira muito competente. Não que isso limite a banda ou a “desbrasileirize” de qualquer maneira.
Creio que, agora com seu novo lançamento – Nada Tropical (2022), do qual esse show que vi faz parte da turnê – não existe uma “correção” ou “revisão” nesse aspecto, como costuma ser apontado pela crítica. As influências brasileiras estão aqui mais presentes apenas fortificando células que já existiam no som da banda. O violão de “La Edad Del Futuro”, do álbum homônimo de 2015, é claramente Jorge-Benico, para citar um exemplo.
Agora em Nada Tropical, nota-se uma Glue Trip mais em paz com seus contextos e influencias. Com maturidade para jogar na panela Daft Punk, Tame Impala e MGMT com Arthur Verocai, Marcos Valle, Jorge Ben e tantas outras coisas. Tirando disso, um saboroso caldo de groove.

Foto: Felipe Maciel
A brisa que vem do mar e bate na cara de Lucas Moura parece mesmo influenciar a maneira como ele faz as suas composições soarem etéreas, o que pede uma sonoridade também imensa como o oceano e cheia desse vento refrescante e reflexivo.
Essa formação parece cumprir muito bem essa função, tanto ao vivo como no álbum. Destaco a presença de João Boaventura, pois já o conhecia de sua outra banda: a Catavento, de Caxias do Sul-RS e acho que sua participação no som da Glue Trip combinou muito com essa proposta que parte do rock psicodélico cheio de reverbs, tremolos e phasers para fazer toda essa energia espectral cair num groove muito brasileiro.
O público que foi muito caloroso com a banda durante a apresentação, obviamente pediu o bis ao fim do show. E, antes dele vir com “Old Blood”, Lucas resolveu falar sobre como compôs a música inspirada pelo mar de João Pessoa e de como, por Florianópolis também ser essa ilha cercada de praias, uma sensação semelhante poderia ser entendida por aqui.
Acho esse comentário do Lucas muito válido, em não apenas para “Old Blood”, como também para todo o repertório que foi apresentado naquela noite fria e Nada Tropical. Mas, brasileira demais.
Em conclusão, da pra se dizer que a Glue Trip foi uma viagem que colou legal lá no Campeche.
Setlist:
1 – Intro + Tropikaoss
2 – Tempo Presente
3 – Waves
4 – Lazy Dayz
5 – Le Voyage
6 – Time Lapses
7 – Birds Singing Lies
8 – Marcos Valle
9 – Fancy
10 – Elbow Pain
11 – Nada Tropical
Bis:
12 – Old Blood