
Por Renan Bernardi
Após ter lançado seu álbum de estreia, Ilha de Calor, em julho do ano passado, a multiartista chapecoense xXJasperXx acaba de renovar esse trabalho em um novo lançamento.
Ilha de Calor: Dance Hysteria trata-se de um álbum de remixes do repertório de seu debut. De certa maneira, esse seria o seu “redebut”: uma versão repaginada por muitas mãos daquilo que já havia sido apresentado.
Trazendo produtores e artistas selecionados pela própria Jasper, o Dance Hysteria apresenta uma diversidade muito grande de sonoridades e personalidades diferentes em cada faixa, mas sempre resultando em músicas “dançantes e violentas”, conforme havia sido o briefing que a artista deu para os seus convidados.
Ainda encabeçado pela PC Music e pelo hyperpop que marcam o Ilha de Calor, em Dance Hysteria Japser buscou transformar seu ódio pela cidade, apresentado em sua estreia, em uma dança revoltosa, um deboche contra a repressão dos corpos que existe em nossa sociedade.
As cores selecionadas para cada álbum nos ajudam a entender esses conceitos. Enquanto Ilha de Calor trazia o amarelo para chamar “atenção” para a nossa situação enquanto sociedade, Dance Hysteria é vermelho: sinal fechado para quem não quiser dançar com a ela e sua turma, que pretendem tomar a rua enquanto estão todos parados.
Aproveitei que estou trabalhando com a Jasper em sua assessoria de imprensa para conversar um pouco com ela sobre cada artista que foi selecionado para os remixes, buscando entender como os conheceu e o que levou a trazê-los para o álbum. Confira após o link.
Segundo a Jasper, a maioria deles ela conheceu pela internet, pelas comunidades online em que percebeu afinidade de gostos e estética.
Mas, comecemos pela exceção:
Faganellow (remixou “V101”): o produtor chapecoense estava no álbum antes mesmo dele ser confirmado. Pois, na produção do Ilha de Calor (onde ele também participou ativamente), já havia comentado sobre a intenção de fazer um álbum de remixes. E como ninguém conhece essas músicas como ele, sua presença era fundamental.
Nessa mesma faixa participou Thalia Abdon, que Jasper conheceu através dos editais de seleção para o Festival Magnólia (em agosto de 2022) e já se afeiçoou ao trabalho. Como Thalia não encontrava produtor para o remix, Jasper uniu ela ao trabalho do Faganellow, com quem já tem intimidade.
Bjorkitos (remixou “Manto”): Jasper já conhecia o trabalho da produtora, mas não conseguia contato pelas redes, até que a encontrou pelo TikTok. Sua musicalidade diversa e sua presença marcante foram determinantes para o convite para esse trabalho, e a sua participação foi muito importante tanto pelo resultado sonoro grandioso que surgiu, quanto pela popularidade da produtora no meio da música eletrônica experimental, o que pode ajudar a Jasper a ter o destaque que merece.
Gulliver De Large (remixou “Manto”): conheceu o produtor pelo Instagram, que o sugeriu como recomendação. Ao conferir as tags #pcmusic e #hyperpop, buscou saber mais, se apaixonou pelo trabalho e suas referências e logo entrou em contato convidando-o para o remix. A faixa conta com vocais do produtor cantando em alemão, sua língua nativa.
Cherry Luna (remixou “xxf3mb0txx”): Jasper a conheceu quando acessou uma conta no Instagram que servia como galeria de arte em homenagem à produtora Sophie (da qual ambas são muito fãs) e lá havia um cover de “BIPP”, feito pela Cherry. Gostando muito de seus vocais e arranjos, Jasper logo entrou em contato com ela e, após estreitada as relações, convidou para fazer parte desse trabalho.
Jeska (remixou “Dystropico”): ela já conhecia o trabalho da produtora há tempos através de seus remixes de músicas gringas com referências do universo pop brasileiro. Sua presença na cena também chama a atenção da Jasper, que gosta muito de como seu trabalho é bem recebido pelo público. Bloomy Grimes (outro produtor presente no álbum) também incentivou o convite para Jeska, então logo que Jasper a convocou, já rolou!
Bloomy Grimes (remixou “Manto” e “Absinto”): já este, Jasper conheceu em um grupo no Discord que reunia fãs da artista e produtora Arca. Nesse espaço, Jasper anunciou que estava montando o seu álbum de remixes e Bloomy foi o primeiro a se dispor a fazer parte do projeto. Sendo também o primeiro artista a entregar o remix para o álbum, sua agilidade e talento surpreenderam.
Soto Orbis (remixou “Dystrópico”): também o conheceu no Discord da Arca. Ele foi justamente o segundo a entrar em contato com a Jasper após o convite. Chamou a atenção por sua presença e conhecimento dentro desse grupo, mas Jasper não sabia que ele produzia. Aberta a essas possibilidades, aceitou a proposta e gostou muito do resultado, achando-o muito original e promissor.
Masmenino (remixou “xxf3mb0txx”): esse produtor a Jasper conheceu pelo Twitter, onde sua popularidade no meio furry é muito reconhecida. Acompanhando e gostando do seu trabalho musical, quando chegou a hora de recrutar os artistas para o álbum remix, ele já era um que estava em sua lista. Conversando e tentando achar um fim em comum entre as referências de ambos, o resultado ficou ótimo. Jasper adora a sua pegada “retrô” e, ao mesmo tempo, bem moderna.
Shyburial (remixou “xxf3mb0txx”): esse já era uma referência para a Jasper desde que ela começou a se interessar por hyperpop, encontrando suas músicas por recomendação do Spotify e, de cara, se encantando por elas. O próprio álbum de estreia da Jasper, Ilha de Calor, já tinha o produtor como uma das referências. Então, na hora de montar o elenco para os remixes, ele não podia ficar de fora!
Artemis (remixou “Dystrópico”): esse Discord de fãs da Arca rendeu muito para o Dance Hysteria, viu? Essa foi mais uma das produtoras que se propôs ao convite da Jasper de remixar uma faixa de seu álbum. Já conhecidas e íntimas em conversas nos grupos, Jasper não sabia que ela era produtora, mas ficou muito feliz de colocá-la nesse projeto e muito satisfeita com o resultado do remix.
Chelsea (remixou “V101”): Jasper a conheceu por recomendação da Cherry Luna, que indicou ela por admirar seus experimentalismos e sua estética ousada. Coisa que a Jasper, quando conheceu, concordou muito. Ficou admirada com a sua expertise em sound design e sua produção, mixagem e masterização industrial e pesada.

Esse álbum está um turbilhão de estéticas e propostas musicais, tendo cada artista conseguido colocar a sua marca para somar no trabalho da Jasper. Vale conferir cada faixa e entender suas diferentes nuances e interpretações.
Pingback: Artistas drags de Chapecó criam movimento contra a falta de espaço e remuneração para suas performances ⋆ Revista Artemísia