
Foto: Capa do álbum ODO~
Por Renan Bernardi
Sintodrama é um duo de música eletroacústica do litoral catarinense formado por Filipe Maliska (Entrevero Instrumental, O Exótico Quark Encanto) e Kauê Werner (Atmosfet, Nebula Dogs), músicos e produtores experimentais que, nesse projeto, se unem com a proposta de observar o som através da sonificação. Ou seja: que coisas, além dos tradicionais reprodutores de som, podem emitir frequências sonoras? E que som têm essas coisas?
Sempre trabalhando com o processamento de sons acústicos, sintetizando-os através de algoritmos e criando riffs que não seguem escalas harmônicas tradicionais, o Sintodrama já realizou dois eps: Ao vivo em Itapema (2016) e Poliglotia (2017); o live cinema Enter the Void (2018); a instalação sonora virtual multicanais Rebocando o Pavilhão Philips (2020); e o aplicativo Sinestética, para síntese sonora em realidade virtual.
Como pode ser observado, além de sua matéria principal – o som – o duo realiza ações multimídia utilizando possibilidades de realidade virtual, criando aplicativos e filmes, sempre relacionando com o conceito sonoro que é proposto.
Assim, eles já trabalharam suas composições através de paisagens sonoras, captando imagens e observando-os como espectrogramas sonoros (imagem tem som?) e incluindo no processo o sampleamento e a manipulação improvisada desses sons. Além de já terem trabalhado a relação de som com cores, através do projeto Sinestética, onde propunham, por meio da realidade virtual, tocar e ver o som apresentado em imagens.

Cheiro tem som?
Esse novo projeto surge quando Filipe Maliska resolve utilizar seu conhecimento profissional com perfumaria (na empresa de marketing olfativo Aromas de Catarina), para buscar também o som através do cheiro.
Em um vídeo postado pela banda no YouTube, Filipe cita que uma das referências que aguçaram as ideias desse projeto é a do perfumista do século XIX Septimus Piesse, que no livro A Arte da Perfumaria cria essa relação da música com os odores, um conceito até hoje utilizado na área: as notas e acordes olfativos, mostrando como a composição dos perfumes é semelhante à de uma música, através de suas somas e junções.
Porém, o Sintodrama busca uma outra interpretação para essa relação. Ao invés de caracterizar um cheiro com uma nota, eles entendem que o que diferencia um som do outro é o seu timbre específico. E é através dessa associação cheiro-timbre que parte a pesquisa que resultou no primeiro álbum da banda: ODO~, lançado no dia 16 de março de 2023.
Além disso, nessa pesquisa eles descobriram que cada molécula de uma fragrância, além de ter um timbre específico a ser utilizado, também possuía uma escala microtonal própria, diferente das demais, o que também serviu de ponto de partida para as composições.
Nos primeiros experimentos ao vivo dessa proposta, eles utilizaram sons retirados de três fragrâncias e, ao longo de cada composição apresentada, uma nota olfativa relacionada com a molécula que virou som era dispersada no ar, criando uma experiência multissensorial no público.

A partir de 2021, o duo começa a compor utilizando um odor para cada música, sobrepondo os timbres e escalas retiradas das moléculas presentes nos aromas.
Tomando como referência as composições politonais, onde diversas harmonias e notas de tonalidades diferentes são tocadas ao mesmo tempo, em ODO~, o Sintodrama cria o seu polimicrotonalismo: várias microtonalidades acontecendo juntas e se confortando.
Em algumas composições, buscaram também pensar o odor, além do seu som, no seu ritmo! E, tomando como modelo a performance de uma fragrância, que se apresenta através de suas notas ao longo de horas, eles recolheram um acorde odorífico e compactaram essa performance em poucos minutos, apresentando primeiramente as notas mais voláteis (mais agudas), depois as notas de corpo (médias) e, por fim, as de fundo (mais graves). Esse experimento pode ser observado na faixa “Fougere”:
As faixas do ODO~, inclusive, são todas nomeadas a partir das moléculas, fragrâncias, notas e acordes olfativos utilizados nas suas composições.

Além do álbum, o projeto ODO~ inclui também um aplicativo, para que os interessados possam experimentar os sons extraídos das frequências odoríferas; e uma série de quatro vídeos nos quais detalham o processo de síntese e composição do projeto:
ODO~ pode ser ouvido em todas as principais plataformas de música.