Samba Nonsense e a Música Clássica do Subúrbio
Samba Nonsense e a Música Clássica do Subúrbio

Samba Nonsense e a Música Clássica do Subúrbio

Foto: Rogério Von Krüger

Por Renan Bernardi

O discurso periférico como resistência ao hegemônico.

O não-sentido como subversão das regras simbólicas.

O improviso como proposição espontânea de novidades. 

O rap, o jazz e o samba como música clássica do subúrbio.

Tradição como movimento: pra frente!

“Quando eu penso no futuro / não esqueço meu passado”.

Formada em 2012, a banda Samba Nonsense reúne integrantes de diferentes cantos da Zona Norte do Rio de Janeiro. E dessa mesma região onde surge grande parte da história registrada e eternizada da música brasileira, de Cartola à Rennan da Penha, o grupo liderado por Jefferson Placido busca uma sonoridade que visa mais somar do que se definir; unir mais do que destacar. Sendo um resultado orgânico desse múltiplo universo do subúrbio carioca.

Através de instrumentais apurados que, tendo o jazz como firmamento, vai do samba de partido alto ao lo-fi hip hop, e letras minimalistas reproduzidas de maneira repetitiva, apresentando conceitos que podem ressignificar-se ao longo de cada canção. O Samba Nonsense já lançou quatro EPs em sua carreira: The Experiment Began (2015), Pastoral de la Musique (2015), Samba in the Palm of the Hand (2016) e King Vulture (2017), esse em parceria com Nelson Cebola e Dom Tatão; Além do single Jacurutã, Jequiriçá and Gruçaí in future tribes (2017), feito em homenagem à Amir Haddad, Leonardo Pernas (Tifa) e Fernando Grilo.

Com Jefferson Placido (piano e voz), Vitor Barros (trompete e guitarra), Rafael Adriano (saxofone), Duda Barbosa (bateria), Zé Valentim (percussão) e Cláudio Castro (contrabaixo elétrico) e Jorge Leal (cuíca) na atual formação, o Samba Nonsense segue em plena atividade, tendo inclusive lançado recentemente uma live no II Festival Zona de Cinema, onde apresentam parte de seu repertório e, além disso, planejam o lançamento de uma série de singles, a partir de março, para fechar um álbum que está pretendendo se chamar Música Clássica do Subúrbio.

Para saber mais sobre a trajetória desse projeto e os rumos que a Samba Nonsense visa para o seu futuro, conversamos com Jefferson por vídeo-chamada. A entrevista na íntegra você confere abaixo:

  • Jefferson, fale um pouco sobre como começa a sua relação com a música e a trajetória que te leva até fundar o Samba Nonsense.

Em 96 eu comecei a desenvolver uma banda com um grande amigo meu aqui da Penha. E a gente era punk, anarquista, e tinha essa banda. Era banda mesmo de garagem, a gente chegou a fazer duas apresentações e foi bem legal. Tinha uma galera aqui da área que tocava e eu tocava contra-baixo.  

E depois dessa banda eu decidi montar o meu trabalho mesmo, que foi o Mulambo de Baque, que já era banda autoral. Eu já escrevia nessa época, e essa banda tinha uma pegada meio Chico Science, que eu era muito vidrado, tinha até as alfaia e tudo mais, levava até alguns covers dele.

Mas a coisa começou a ficar séria mesmo quando eu conheci a galera do Blacka Powa, que era uma banda de rapcore de uns caras já mais velhos, que circulavam pelo Rio de Janeiro e tavam precisando de um baixista, aí eu fui lá fazer o teste e os caras curtiram meu baixo e fiquei tocando com eles, circulando aqui pelo Rio. A banda era do Méier e eu era da Penha, então conheci uma outra galera que foi abrindo o meu campo.

Assim que a banda acabou, eu fui convidado pra fazer parte de um projeto chamado Partido Leve, que foi aí onde eu me profissionalizei, fui artista Oi Novo Som, nossa música tocou nas rádios aqui no Rio de Janeiro. Era uma banda de samba-rock, bem bacana, que a gente circulou bastante, fui pra Minas, pra São Paulo, tocamos no interior do Rio também, fizemos bastante apresentações. Enfim, tomamos conta do pedaço aqui do Rio, tocava na Lapa direto, a gente chegou a fazer temporadas em vários lugares aqui no Rio.

E assim fui tocando a vida até que o Partido Leve acabou em 2009. Em 2010, comecei a imaginar como seria minha vida sem música né, e eu vi que seria um erro, então eu comecei a tocar piano. Já gostava muito do instrumento, já tinha tocado algumas vezes, e decidi comprar um tecladinho, um PCR 233 e comecei a estudar em casa, no YouTube, vendo metodozinhos pra lá, pra cá. Depois de uns dois anos estudando piano, fiz o Samba Nonsense, porque fui morar na casa de um brother, me separei da minha esposa, e cheguei lá na casa dele onde ele tinha uma coleção imensa de disco de jazz, e ele começou a me aplicar muito jazz. Eu até então curtia muito samba, sempre fui muito do samba, do samba-rock, gostava muito de Nelson Cavaquinho, Bebeto, Candeia, essa galera do samba mais raiz. Tem um disco chamado Os Quatro Grandes do Samba que é muito brabo, né?

  • Com Elton Medeiros.

Isso, Elton Medeiros, Guilherme de Brito, Candeia e Nelson Cavaquinho, essa galera toda. “No carnaval / não vou querer me fantasiar”. E uma coisa que até esqueci de falar, como eu sempre fui muito ligado ao samba, em 1999 eu fui pela primeira vez no Cacique de Ramos e conheci os caras mesmo, Arlindo Cruz, Sombrinha, Almir Guineto, Zé Luiz do Império, eu vi Luiz Carlos da Vila cantar “Sim, ora se sim! É o Cacique de Ramos!” e uns caras que às vezes não tão nem nos holofotes, né? E durante essa caminhada, eu nunca deixei de ir no Cacique, mesmo escutando Rage Against the Machine, eu ia lá, sabe?  Gostava de punk rock, mas eu ia no Cacique, me sentia bem lá, porque era um lugar acolhedor. A gente chegava lá, na época eu tinha cabelo assim igual o teu, chegava lá com os cabelos tudo grande, com dread, a gente era anarquista né? Rock and roll, mas já ia de chinelo pro Cacique, chegava lá e ficava tomando uma cervejinha. Os cara riam da gente, Renan…duma maneira assim hahaha Imagina uma porrada de rockeiro, com skate na mão, no samba? Hahaha Mas a gente já ia por conta da música, porque a gente cresce aqui no Rio escutando Zeca Pagodinho, escutando essa galera. E os cara olhavam pra gente e falavam “pô, chegaram os rockeiro!”, coisa e tal, e a gente ficava lá, mas era acolhedor. Aí uma vez alguém perguntou “e aí: vocês tocam?” aí eu falei que era contrabaixista, e ele “pô, que legal! Qualquer dia traz o contrabaixo aí”, daí eu já falei pra ele “sou contrabaixista, mas se me der um violão de 7 cordas eu já vou dar uma de Dino aqui”, e o cara ficou “pô, tu conhece Dino 7 Cordas?!”, aí foi bacana. Então eu sempre troquei essa ideia com a galera da velha guarda, como Nelson Cebola, Renatinho Partideiro, os caras todos do Cacique.

Enfim, falei um pouco da minha trajetória que eu parei ali pra falar de quando eu comecei o Samba Nonsense, que foi em 2010. De 2010 a 2012, eu comecei a pensar quem seriam esses integrantes pra tocar comigo. Foram dois anos assim pra chegar numa formação inicial, e em 2012 a gente fez a primeira apresentação, na Arena Dicró, na Penha.

  • O Samba Nonsense tem um conceito estético-sonoro que, mesmo muito aberto, parece partir de uma ideia muito bem definida. Fale um pouco sobre o que você buscava quando planejou iniciar esse projeto.

Conceitualmente, eu só pensava em não fazer mais o êxodo que é sair daqui da zona norte do Rio pra tocar na zona sul, que é um êxodo bem perverso, de deslocamento, de ônibus, de pegar o instrumento e levar. Então minha ideia, primeiramente, foi chamar os músicos aqui da zona norte, e a ideia até hoje é essa. Por exemplo: eu, Vitor, meu irmão, que é o Zé, o Rafa que faz o sax, todos os integrantes são da zona norte. E eu tinha um conceito já de fazer um samba-jazz, de não fazer “qualquer música”, fazer uma música de impacto, uma música que mostrasse um pouco de verdade. No The Experiment Began, que foi o primeiro disco, que a gente lançou em 2014, já tinha músicas com essa pegada de músicas, tipo “Rataria”, “como tem rato achando que tá por cima do queijo”, que tem participação do Negro Leo. Esse álbum também tem participações de Carlos Malta, Thomas Harres, grande baterista, com uma galera, Leandro Joaquim, que toca trompete no Abayomi Afrobeat. Enfim, nessa gravação foi inevitável eu ter chamado uma galera pra participar ali e tudo mais, mas a ideia sempre foi ter uma voz ativa, mostrar um pouco dessa vertente do subúrbio, de estar indo sempre de encontro do que é essas regras hegemônicas, de quebrar essa noção do que é o “artista”, que é uma coisa que aprendi em uma aula do Amir Haddad, que é teatrólogo, um cara brabão do teatro, que fala que se o artista não tem papel da sua cidadania, ele é apenas um mantenedor de seus interesses. E isso aí eu levei pra mim, e desde então sempre trouxe comigo essa questão da anarquia, de Bakunin, desses caras que vão contra o estado, que é um contato que eu tive muito dentro do underground. Hoje eu tô me pondo um pouco mais fora da minha caverna, tentando quebrar essas trincheiras da burocracia, do mercado fonográfico. Mas desde então venho nessa pegada, já tinha esse conceito, mas ainda não era essa ideia da música clássica, mas já com essa ideia de que a arte é periférica, que a arte tá no subúrbio, tá nas margens.

  • Aproveite então para falar sobre esse termo que você vem usando ultimamente, “música clássica do subúrbio” para falar sobre o som que você produz e estuda, que é inclusive o nome que está se pensando pro próximo álbum do Samba Nonsense.

A música clássica do subúrbio surgiu dessa ideia de que, por exemplo: “O Renan? O Renan é um clássico aí de Santa Catarina! Claro que conheço o Renan”, nessa ideia de que a pessoa é um clássico, “Jefferson é um clássico! Lógico que conheço!” Essa onda, essa gíria, dessa coisa do suburbano que é muito aparente, do carioca caricato, o Zé Carioca.

Até tem uma história legal, fugindo um pouco da entrevista, o Walt Disney teve aqui em 1920, foi na quadra da Portela e conheceu o Paulo da Portela, então o Zé Carioca tem essa onda assim, de andar, coisa e tal, por conta do Paulo da Portela, dessa maneira de resolver as coisas. Então é um pouco disso. 

E voltando ali, a música clássica do subúrbio é a música clássica que não é a música erudita. É o antagonista da música erudita. A gente é clássico porque a gente consegue reunir as pessoas certas pra tá fazendo o som, pra tá dialogando, pra ter referência, pra ter informação. Então é anti-glamour, ela é anti-live, anti-tudo! Ela tá aí pra quebrar essa música aí que tá dentro desses paradigmas, dessa burocracia fonográfica. Então quando a gente fala “música clássica do subúrbio”, é legal porque ninguém remete a uma música erudita. E não que eu não goste de música erudita, eu acho que ela tem uma profundidade muito grande. A música erudita é muito profunda, mas eu acredito que a música clássica é essa música que tá aí hoje. O que acontece, sempre sai do subúrbio, sai das margens. Tô trazendo Anitta aqui, por exemplo, pra falar que: poxa, é a artista que mais vende aí do Brasil, tá lá fora, e ela é do subúrbio, nasceu em Magalhães, daqui do lado, sabe? Morou no Irajá. Então é essa questão, é a música antagonista da música erudita. E tem esse nome “clássico” por ser de fato um clássico, de trazer essa coisa “um clássico do cinema”, “um clássico da rua”, sempre brincando muito com essa coisa da rua, das esquinas. 

  • A maioria dos EPs lançados pela Samba Nonsense tem um trabalho muito bem desenvolvido nas letras, tanto nos primeiros, onde se pode perceber uma ideia poética que se relaciona com as canções de Tom Zé, quanto no King Vulture, onde temos um foco maior no samba de Partido Alto. Porém, o trabalho instrumental sempre esteve presente, e nesse novo single ele também é a bola da vez. Como você relaciona e seleciona esses universos na hora da composição e lançamento? Parte de uma escolha estética ou surge de maneira espontânea?

Essa pergunta eu posso responder como uma questão, sei lá, divina, uma imensurável beleza do acaso, sabe? Eu não consigo explicar isso muito não, porque por exemplo: o The Experimente Began eu fiz nessa onda de querer voltar a tocar, então você pode ver que tem muito elemento do samba-rock, que era o último som que eu fazia. E depois eu fiz o Samba In The Palm Of The Hand, que tem muito a ver com a necessidade que eu tava passando de fazer música, que eu fiz o álbum sem banda nenhuma, batendo na palma da mão e usando percussão corporal, por conta de uma questão também que a banda tinha dado um tempo, porque o nosso baterista tava doidão, tava passando por maus momentos, então eu defini por parar a banda no momento, mas continuei produzindo. Depois eu vim com Nelson Cebola no King Vulture, e nessa mesma onda do Samba In The Palm Of The Hand. Eu já conhecia o Nelson e sugeri pra gente gravar na Biblioteca Parque, que eu tava lá nesse momento, e a gente poderia fazer umas músicas gratuitas e tudo mais, porque esses discos aí, foram feitos a maioria deles tudo no amor, sabe? Tudo na união, a galera “po, vamo lá gravar”, então o improviso tá sempre muito dentro dessa minha plataforma, e aí eu fui desconstruindo aos poucos pra chegar na música instrumental.

Quando eu fiz a minha primeira música instrumental, eu não quis mais parar de tocar música instrumental. Porque eu acho a canção muito burocrática. A canção é uma música que requer de você muita doação e a música instrumental é muito fácil, natural, que sai de dentro de você, né? Você precisa logicamente estudar pra tocar qualquer instrumento, mas a música instrumental, se você tiver um pouco de autodidatismo, você consegue debulhar ali, sabe? Caminhar por ela. Então no Pastoral de la Musique, eu já fui com uma música instrumental, mas já fui pensando em não querer mais fazer canção. Canção eu deixo pro Negro Leo fazer, deixo pro Caetano, deixo pro Renan, deixo pra essa moçada que tá com a cabeça mais fresca pra pensar em letra, porque eu acho que eu me esgotei muito de escrever, porque pra escrever, você tem que tá sobretudo harmonioso muito, e eu tava muito ácido, tava escrevendo com muita acidez, com muita rebeldia. Não que eu não goste disso, eu amo! Mas eu preferi mostrar essa rebeldia nesse som que você ouviu aí, na “Música Clássica do Subúrbio” [faixa-título do novo álbum que será lançada em breve como single], que começa uma coisa bem tudo natural e depois vem a pandemia, vem aquele sax pesado do Rafinha ali. Eu acho que os nossos improvisos dão pra espairecer bem a nossa raiva, a nossa indignação com esse governo, com essas atitudes, com esse capitalismo, com essas possíveis guerras, com essa guerra viral aí que a gente nem sabe se é mesmo uma guerra viral, a gente não sabe se não é realmente uma nanotecnologia de implantação de chip. E se for uma implantação de chip, tomara que ela vire um portal que a gente possa entrar pelo zoom aqui e “e aí Renan! Vamo toma um café”, porque se for assim eu sou doido pra ter um chip, ia ser feliz da vida, né? “Hoje eu não vou sentir fome” Pah! Podia ser assim, não podia? “Agora que eu tenho um chip quero tocar piano igual ao Theolonius Monk”… Pah! hahahaha. Mas é claro que a gente é contra qualquer ação desses negacionistas, a gente tem mesmo é que tomar vacina e tá bem munido aí, com a imunidade bem legal porque a gente ainda não sabe bem o que é esse vírus.

Mas, sobretudo, a música instrumental foi uma passagem, acho que de um amadurecimento, né? Um amigo meu, um grande mestre chamado Joel Gama, ficava me mostrando as nonas, mostrando uns sons do Vivaldi e tudo mais e eu falava “Joel, eu não to preparado ainda pra ouvir música clássica”, e ele falava “não, você é jovem! Você vai escutar muito jazz ainda quando você amadurecer”. E eu acho que a música tem essa questão do amadurecimento. Ou não né? Tem uns cara tão prodígio que desde jovem já escuta Miles Davis. Quem dera eu com 16 anos escutando Miles Davis, eu acho que eu nunca mais ia deixar de escutar! Na verdade o cara que eu amo de paixão é o Thelonious Monk, tem até uma música desse disco novo que se chama “Thelonious Monk lá da Penha”, que é uma auto-gastação, porque um amigo meu fala que quando eu boto a boininha eu fico com a cara dele. Pelo menos eu não fico rodando com as neurose e as esquizofrenia dele, de repente pode vir aí durante o tempo. Mas assim, Horace Silver e Thelonious Monk são dois caras que eu gostei muito do piano, da forma como eles abordam a música, essa coisa minimalista, do “Blue Monk”, e de outras músicas deles. E fui trabalhando a música instrumental e decidi fazer uma música por dia, que é muito difícil, depois o foco virou uma vez por semana e agora tá quinzenalmente, até chegar a ser mensalmente, porque é muito difícil né hahaha. Mas consegui fazer duas músicas agora aí, depois dessa safra que foi pra gravação do álbum. A gente tá com o disco pronto com dez músicas. Pronto não né? Temos duas prontas e oito músicas que ainda tamo desenvolvendo. 

Foto: Rogério Von Krüger
  • E pra fechar: aproveite esse espaço para falar algo que você gostaria e eu acabei não perguntando.

Uma coisa que eu queria falar é que, a gente como artista independente, fica sendo muito invisibilizado, né? A invisibilização do artista periférico, do artista independente, é uma coisa que me chama muito a atenção dentro desse mercado fonográfico da música. A ponto de eu ter que desenvolver cada vez mais e melhor a estratégia do Irajazz [evento independente encabeçado pelo próprio Jefferson], em me profissionalizar nisso, fazer um flyer bonito e ter um lugar pra tocar, né? A gente tem um lugar pra tocar porque a gente fez o lugar, isso é uma coisa que cada vez mais vai acontecer, do artista ter que ser o produtor, o empreendedor, e isso fez com que o Samba Nonsense hoje tenha essa crescência, sobretudo tenha esse respeito, né? Quando a gente liga pro Carlos Malta, que é um cara que, porra, tocava com Hermeto Pascoal, gravou vários discos como flautista dele, e o cara fala “ok!” e vai no teu evento, quando Jorge Amorim vai no teu evento, que é um grande baterista de jazz, e o Victor Bertrami chega junto. Não só eles, mas a galera do hip hop também, as minas: Aika Cortez, Lorac Lopez, Vitin, Dom Negrone, SVI MC, Airá, Cold Jas, Negra Rê, a galera do rap daqui que já conhecia meu trabalho com o Partido Leve.

Então eu tive que profissionalizar o Irajazz, pra que o Samba Nonsense tivesse mais um foco, porque se a gente depender de uma estrutura, de uma assessoria de imprensa, não rola. Porque eu acredito que a gente hoje não tem grandes artistas – tô brincando! Haha – mas que a gente tem sim grandes assessores de imprensa, essa questão de você ter que conhecer uma galera e tal. Eu não conheço ninguém, cara! Eu não vou pedir nada a ninguém. O Irajazz hoje é minha grande força, é o que eu tenho como foco, que é um evento que eu levo outras bandas, levo uma outra galera. Então eu queria falar isso, sobre essa invisibilidade do artista periférico, que a gente luta sempre contra isso, e que o Irajazz foi o grande termômetro pra que a gente possa sentir uma maior visibilidade, e sobretudo ressignificar o nosso território. Porque quando a gente traz um jazz pro subúrbio, pra zona norte, a gente se depara com um cenário, porque a gente não sabe o quanto o subúrbio curte jazz. É a gente chegar na periferia, a gente tá tocando aqui numa praça e o cara passar e começar a falar da discografia toda do John Coltrane e você chega a ficar sem graça porque nem consegue seguir o raciocínio dele, e o cara falando de Love Supreme, de como foi feita a música e tudo mais. Então existe um grande preconceito, nessa questão do jazz ter virado uma música da elite, e que não é. O jazz é uma música do mundo, assim como o funk é. A gente brinca muito que, sem música não há milagre, sem música o santo não chega no terreiro, porque a música é esse canal de ligação das plataformas, das pontes e tudo mais. E a gente acredita que nossa música,  independente de estar fazendo música instrumental, que não tem letra, seja essa se essa ponte de transformação social, de engrenagem e de ressignificação do nosso território, iluminando o subúrbio, a Zona Norte do Rio de Janeiro.

6 comentários

  1. Jefferson Placido Valentim dos Santos

    Gratidão Profunda a todos os envolvidos, em especial ao Renan Bernardi pelo carinho, acolhimento e ternura na condução da Entrevista. Viva a Música Clássica do Subúrbio!

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