Liderança camponesa é tema do documentário  “No Quintal de Rosalina”
Liderança camponesa é tema do documentário “No Quintal de Rosalina”

Liderança camponesa é tema do documentário “No Quintal de Rosalina”

“Eu nunca tive vergonha de dizer ‘eu sou uma cabocla! Uma cabocla camponesa! Uma mulher da terra!”, afirma Rosalina Nogueira da Silva, agricultora de Chapecó, que aos 69 anos de idade trabalha com o cultivo e processamento de plantas medicinais. Sua trajetória de vida inspirou o documentário “No Quintal de Rosalina”, produzido e dirigido pelo jornalista Taulan Cesco. Dona Rosa, como costuma ser chamada, vive em Faxinal dos Rosas desde a sua infância. E foi na comunidade rural, ainda na juventude, que a camponesa deu seus primeiros passos no trabalho social que realiza até hoje, através da Associação Pinta Rosa, criada por ela. 

Após participar de encontros promovidos pela Pastoral da Saúde, na década de 1970, e das primeiras reuniões do Movimento de Mulheres Camponesas, nos anos de 1980, Rosalina passou a ser reconhecida como liderança comunitária, engajada nos direitos das mulheres agricultoras, na defesa pela alimentação saudável e no cultivo de ervas medicinais. “A história de dona Rosa é atravessada de rupturas com paradigmas, discursos hegemônicos e opressores. Ela desafiou sua vida para lutar e conquistar direitos que temos hoje e que ainda são postos em risco pelas políticas genocidas que vivenciamos pelo atual governo”, explica o diretor.

Ao lado de muitas outras mulheres, a trajetória de Rosalina perpassa a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a conquista da aposentadoria e o direito à licença-maternidade para agricultoras, resultado da força popular e articulação das mulheres do campo. “Acredito que contar a história de dona Rosa também é evidenciar a figura das lideranças comunitárias como agentes transformadores”, relata Sabrina Zimmermann, produtora executiva do documentário. “Rosalina é reconhecida em todo o Brasil e o nosso trabalho busca dar continuidade ao seu legado, para que possa inspirar outras pessoas”, completa Sabrina.

Próximos passos

O projeto do documentário foi contemplado pelo Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó em 2018, também recebeu patrocínio do Sistema Cresol Central SC/RS e foi selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, promovido pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Segundo o diretor, os mecanismos de financiamento públicos são essenciais para a produção cultural e promoção das expressões artísticas. “Estes e outros tantos editais também representam enormes conquistas, não somente para os artistas e produtores artísticos, mas para todos os chapecoenses e catarinenses”, ressalta o diretor. “São estes mecanismos que permitem valorizarmos figuras locais, profissionais da região e trazer à luz da História novas narrativas. Sobretudo em produções de baixo orçamento ou sem subsídio de grandes players e produtoras”. 

“Eu penso que como produtores culturais, temos a responsabilidade de fomentar os movimentos artísticos de Chapecó, dar notabilidade às histórias e pessoas quase sempre marginalizadas e estimular que outras iniciativas sejam realizadas”, destaca Taulan.

Por ser uma grande conhecedora do uso e processamento de plantas medicinais, a história de Rosalina cruzou a vida de muitas pessoas. “Contar a história de Dona Rosa é contar a história da criação do SUS, de políticas públicas para as agricultoras, do fortalecimento de movimentos sociais e da preservação da saúde integral”, pontua o diretor. “São muitas as vivências e contribuições que ela deixou e ainda se esforça para alcançar”. 

Legado que inspira

O documentário apresenta vários núcleos temáticos que fazem parte da vida da protagonista. “O trabalho social e a rotina de Rosalina são muito próximos e escolher um fio-condutor para a narrativa foi um processo complexo”, revela Taulan. “Decidimos assumir uma abordagem situacional nas gravações, na qual promovemos encontros entre Rosalina e os demais personagens, a fim de recordar ou dialogar sobre os temas do documentário”. 

Com lançamento realizado no final de 2021, o documentário será distribuído de forma gratuita para a comunidade chapecoense, através de exibições públicas e cópias em DVD. Antes disso, “No Quintal de Rosalina” será inscrito em festivais nacionais e internacionais de cinema. “Nossa ideia é circular com documentário em diferentes espaços e inspirar outras pessoas com o legado de dona Rosa. Entendemos que esta contrapartida não somente amplia a visibilidade dos patrocínios recebidos para a produção do documentário, como demonstra o potencial cinematográfico da nossa região”, reitera o jornalista.

O filme está disponível no YouTube:

SINOPSE: Por meio de encontros afetivos, conhecemos a trajetória política e social de Rosalina, sua militância no Movimento de Mulheres Camponesas, as tradições caboclas, os ideais da agricultura familiar e a cura através do cultivo de plantas medicinais. Rosalina segue regando o mundo com seu conhecimento ancestral, o maior legado que podemos herdar de uma “bruxa do bem”, como ela mesma diz.

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