
Por Ana Vertuoso
Há alguns dias, meu celular me lembrou que esse ano está finalmente acabando. O popular Spotify Wrapped, que reúne os conteúdos mais consumidos em cada conta da plataforma, tomou conta das redes sociais. A curiosidade e o medo de ficar de fora dessa retrospectiva coletiva me motivaram a conferir os resultados da minha conta. Nas músicas mais ouvidas, estavam estampados os diversos surtos, crises de ansiedade e as muitas noites em claro ouvindo temas de video games e playlists lo-fi.
Porém, o que mais me chamou atenção foi o tempo gasto com podcasts. Ao todo, 19.774 minutos. Apesar de muitas dessas horas não terem sido dedicadas somente aos episódios, ainda são quase 14 dias ininterruptos de conteúdo consumido. Então, apesar de não ter aprendido a cozinhar, não ter investido em nenhuma empresa e não ter encontrado um hobby de quarentena, digo que 2020 me transformou em uma espécie de connoisseur acidental de podcasts. Abaixo estão alguns dos melhores programas que me fizeram companhia durante esse ano e que talvez você possa se interessar:
Para passar raiva com os atuais cenários político, econômico e social, o Foro é o melhor programa. O principal podcast da Revista Piauí é semanal e apresentado por três repórteres “da casa”, que ao longo de 50 minutos trazem opiniões valiosas de quem conhece os bastidores de Brasília. As discussões são interessantes, recheadas de menções à maravilhosa espécie javaporco e tendem a antecipar movimentações políticas importantes.
Aleatório. Esse é o único termo para descrever um podcast que responde porque nós roncamos em uma semana e debate se sons binaurais (seja lá o que for isso) ajudam a nossa mente em outra. O Naruhodo foi um dos primeiros programas que ouvi e é o que mais me motiva a procurar além. Como os apresentadores mesmo descrevem, esse é o podcast pra quem tem fome de aprender, seja algo extremamente complexo ou apenas curiosidades que permeiam nosso cérebro durante a madrugada.
Como as coisas mudam com o passar do tempo, meu avô lia as notícias diárias no papel e eu as escuto no fone de ouvido. O Panorama, apresentado em duas edições diárias, reúne os acontecimentos mais relevantes do Brasil em cerca de 20 minutos. Porém, apesar do formato factual e semelhante a um programa de rádio AM, a recomendação é devido a criatividade dos apresentadores, que conseguem costurar as notícias e brincar com temáticas que, a princípio, parecem completamente aleatórias.
Sou uma pessoa noiada e às vezes, parece que ninguém tem as mesmas noias que eu. Afinal, quem já perdeu o sono pensando no que faria se, por acaso, acabasse voltando no tempo. Como provar para alguém de 1820 que sou do futuro, se não conheço nenhum evento importante daquela década? Será que vale mais a pena fingir que sou daquela época mesmo? E o efeito borboleta? Pensamentos absurdos como esses encontram um lar neste programa semanal, com episódios longos que variam de uma à duas horas de duração.
O Mundo Freak presenteia a podosfera com discussões interessantes sobre assuntos intrigantes. O grupo de apresentadores, que varia constantemente, mistura céticos, crédulos e pessoas “meio termo” para conversar sobre a existência do Santo Graal, extraterrestres e muitos outros mistérios do Universo. Além disso, o programa produz minisséries de terror de alta qualidade, que merecem ser ouvidas com um bom fone de ouvido e, se for corajoso, em um ambiente escuro.
Ótimo para leigos culturais, o programa aborda a obra de movimentos e artistas que são fundamentais para a sociedade atual, além de fornecer bibliografias e contextualizar a vida de figuras marcantes. Os episódios ainda são guias bastante úteis para quem pretende ler os textos de Gabriel García Márquez, ouvir ópera ou assistir a filmes do cinema sul-coreano, mas não sabe por onde começar. Porém, a frequência do programa é um mistério, às vezes semanal, às vezes mensal.
Por fim, uma menção honrosa é a popular terceira temporada do Projeto Humanos. Apesar de incrivelmente longo e enrolado, o Caso Evandro detalha todas as investigações a respeito do desaparecimento do menino Evandro Ramos Caetano, em abril de 1992. Iniciada há mais de dois anos, a série de podcasts foi finalmente encerrada com o episódio número 36 e é uma obra-prima brasileira.
Nossa podosfera é extremamente rica, com conteúdos de qualidade para os mais diversos gostos. Caso tenha gostado dessas recomendações ou queria explorar outros programas que talvez combinem mais com você, uma boa ideia é conferir os podcasts da Revista Artemísia.