Em disco instrumental, Fluhe convida para uma viagem musical
Em disco instrumental, Fluhe convida para uma viagem musical

Em disco instrumental, Fluhe convida para uma viagem musical

Por Julia Ourique

Guitarras abrem as portas para um novo plano espiritual. A cada passo, o acompanhamento firme do baixo e bateria. Não é preciso voz, as notas cantam, dançam, convidam. Com 11 faixas que vão do rock alternativo ao trip hop, a Fluhe lança o álbum de estreia “sobre nós”, via Alcalina Records. O disco fala sobre união sem precisar usar discurso verbal, tudo está nas entrelinhas e há muito o que perceber na produção, mixagem e masterização feita por Chico Leibholz.

O trabalho de nome fácil traz em si a carga política exigida em tempos como os nossos. Em “sobre nós”, a Fluhe acredita que evoca fases passadas, o que foi vivido, o que continua amarrado e o que foi perdido. Chico Leibholz explica sobre o conceito do álbum:

“Ouvi o termo ‘’nós por nós’’ em uma live da Anielle Franco. Da sua fala e ao meu entender, isso representa que nós pretos temos de fazer por nós, nos fortalecer, não podemos esperar que brancos nos digam o que fazer dentro do contexto sócio-político no qual vivemos. Talvez isso tudo seja só para desatar nós. Nó por nó, todos nós, não apenas eu.”, avalia Chico Leibholz.

A temática urbana e instrumental da Fluhe é possível de observar em cada faixa. Ao envolver elementos do rock e da soul music, em “sobre nós” a sonoridade se intensifica pro rock, sem perder o groove característico da banda. O processo de criação que culminou no disco teve início há cerca de seis anos, após o fim das bandas que Chico participava: Soulstripper, Os Augustos e Boom Project. Mas os primeiros passos não foram tão óbvios: o então multi-instrumentista desistiu de tocar.

“Coloquei todos os meus instrumentos à venda, e por sorte não vendi quase nada (risos). Estava cansado de passar perrengue com pessoas que não se preocupavam tanto quanto eu para um projeto musical. Enfim tirei uma pressão de me preocupar com outras pessoas, e passei a estudar formas de se compor sozinho, mas sem nenhuma pretensão.” relembra.

Em meados de 2017, Chico recebeu dois convites para tocar bateria em projetos musicais. O primeiro foi de Rafael Bulleto (BIKE, Antiprisma), que começava a planejar o Neptunea, seu projeto solo; O segundo convite foi de Eduardo Arrj, que iniciava a banda Andaluz. Com dois sinais na mesma semana, Chico não teve opção e voltou a tocar. A partir deste momento o músico voltou a dedicar-se a música, retornou a atenção para as demos que tinha abandonado e começou a construir a Fluhe, um projeto que é parte de um movimento cíclico muito intenso, tanto pessoal quanto profissional.

O álbum “sobre nós” trouxe o lançamento de dois clipes, “Apenas Sonhos” e “Sábado, Janeiro e Agosto”, além dos singles “O elo que falta” e “Vermelho Púrpura”. A Fluhe foi fundada há dois anos pelo multi-instrumentista Chico Leibholz (Boom Project, Soulstripper, Os Augustos) e já alcançou festivais conhecidos na cena independente brasileira como Bananada (GO) e CoMA (DF). 

Além de músico, Chico também é conhecido na cena por seu trabalho como engenheiro de som, tendo trabalhado no estúdio na Casa do Mancha. Atualmente, é o responsável pelo estúdio Baixo Augusta, em São Paulo (SP). A capa do disco é de autoria de Chico Leibholz, que também foi responsável pela criação, gravação, mixagem e masterização de todas as faixas. 

Vermelho Púrpura

A guitarra abre a canção como se convidasse para um passeio ao pôr do sol. A entrada do baixo e da bateria, em sua conversa visceral, mostram que a viagem é um presente para poucos. Assim é o single “Vermelho Púrpura”, que prepara os ouvidos para o lançamento do álbum de estreia da Fluhe (São Paulo/BR), “sobre nós”, que será lançado ainda este mês. A canção faz referência ao jogo Top Gear, lançado para Super Nintendo, e traz como influência musical as bandas Polara, Jawbreaker, Samian, Hateen, Sunny Day Real Estate, Piebald, e etc.

As memórias da infância às vezes aparecem nos momentos mais estranhos. Para Chico Leibholz, foi no fim de uma fase depressiva de sua vida.

“Este single marca uma parte em qual dominei minha depressão e tive forças para seguir adiante, assim como na letra da música. Originalmente essa música se chamaria Carne e Osso, mas decidi trocar por Vermelho Púrpura pois acho que essa é a cor desse som. Ela é de 2015, e nessa época eu prestei atenção de fato na trilha sonora do jogo Top Gear (1992), de Super Nintendo. Fiquei fascinado na trilha do game e obviamente ela me influenciou na composição”, relembra Chico.

Sábado, janeiro e agosto

O sol que ilumina a todos, traz energia mas não apaga a solidão do ser. É sobre esta individualidade que fala a nova música da Fluhe (SP), “Sábado, janeiro e agosto”. A canção foi composta por Chico Leibholz em parceria com o jornalista, DJ e compositor, Marco Sá e é uma adaptação de um poema do escritor que fala sobre separação. Já o clipe foi gravado em Jericoacoara (CE), durante uma viagem com a família.

“Nesta música especificamente eu me senti confiante o suficiente para cantar. A princípio a Fluhe é uma banda instrumental, mas pelo fato de ser um projeto solo, sinto que tenho essa possibilidade de experimentar tanto sonoramente quanto colocando uma letra e cantando.”, explica Chico Leibholz.

O rascunho do roteiro para o clipe já estava pronto na cabeça de Chico Leibholz, a ideia era de alguém que passaria bastante tempo andando, fazendo movimentos cíclicos de ir e voltar, como se tivesse vagando na madrugada. O músico conta mais sobre o processo de descoberta da letra e da gravação do vídeo:

“A letra veio de um processo de adaptação de um poema dele, e o sentimento das palavras era o que eu realmente sentia quando percebi que meu casamento havia acabado. O clipe foi filmado inteiro em Jericoacoara, há dois anos, com uma câmera Nikon antiga; Daquelas primeiras digitais, sabe?  Estava numa viagem com minhas filhas e a mãe delas (na época esposa) e fui sacando as praias e entendi que durante a madrugada conseguiria gravar tudo ali. Tracei rotas, estudei o posicionamento da câmera no tripé e gravei bastante coisa.”

Ouça o álbum “sobre nós” na plataforma de sua preferência:  li.sten.to/bJmMdWL

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