
Fotografias: Camila de Almeida
“Um sopro que vem aos ouvidos e chega até a alma. Música no corpo, poesia pra vida. Às vezes brisa, às vezes ventania”, assim Herman Silvani, guitarrista da banda Epopéia, tenta sintetizar o novo disco “Escuta Zé Ninguém”, da banda curitibana Sopro Difuso.
Lançado no início de agosto, o “Escuta Zé Ninguém” é inspirado na obra homônima do psicanalista Wilhelm Reich. O álbum surge como necessidade urgente de pensar a trajetória humana. O ímpeto destrutivo em “Ventania” e “Dia após dia”, sua entrega a objetificação e consumismo em “Capital”, a desolação patológica em “Psicossomático”, passando pela tomada de consciência e esperança como motor de luta social em “Revolucionar” e “Tupiniquim do asfalto”.
As letras das 12 faixas do disco foram compostas por Jacir Antunes, vocalista da banda. Segundo ele, foram inspiradas por situações que vivenciou e percebeu da realidade social e a partir de leituras de escritores de teor poético-filosófico. Ele conta um pouco mais de como o conceito do álbum se concebeu:
“Na universidade tive contato com o pensamento e obra de Wilhelm Reich. Entre eles o “Escuta, Zé Ninguém!” que escreveu no cárcere (foi preso porque seus pensamentos e descobertas eram uma ameaça à família tradicional cristã). Neste livro, Reich faz um desabafo crítico ao caráter humano medíocre e destrutivo que existe em nós. É revelador! Pois a humanidade segue um caminho de autodestruição. Talvez seja a base do meu pensamento, modo de ver o mundo e representá-lo através da arte. Este disco vem como homenagem e alerta”, explica Jacir.
Gravado no Estúdio Gramofone e no estúdio Nico’s, a produção ficou por conta de Erico Taciano Viensci e Rogério Naressi, com gravação e mixagem de Rogério Naressi, que teve uma participação especial no piano, rodhes e sintetizador. “Como o Rogério Naressi mora nos EUA, sempre aguardamos ele vir de férias para fazer a captação dos sons. A mixagem foi feita lá mesmo. Então, teve início em 2014 e finalizado em 2020”, lembra Jacir.

A arte da capa
O artista Ricardo Marques, emprestou seu talento para conceber o designer gráfico do disco. Ele explica que para a arte da capa teve a intenção de “conceber um ambiente estranho, que criasse ao mesmo tempo desconforto e reconhecimento”.
“Somos automatizados a pensar que precisamos dos objetos e utensílios criados pelo homem, mas quem rege nosso espaço sempre será nosso habitat. O eclipse é aquele evento raro em que somos ¨obrigados¨ a contemplar a magnitude do universo, o sublime. Entendermos quem somos, porque somos, para onde vamos. No fundo todos os elementos ali são uma grande pergunta”, conceitua Ricardo Marques.
Para Jacir Antunes, a imagem “simboliza o caos, a ideia de terra arrasada, a infinitude do universo”. A música “Dia após Dia”, que fecha o álbum, expressa essa sensação:
“Dia após dia sob esse céu revolto
O cérebro no ponto para explodir
Cinzas às cinzas precisamos juntar
Se você não sabe eles estão sangrando
Um coração puro a cada pôr do sol
Brasa nos pés precisamos voar…”

A banda
A Sopro Difuso apresenta composições que transitam entre elementos do rock, folk, progressivo e ritmos da música popular, como valsa, baião, frevo, jongo, flamenco e milonga. Letras e arranjos fundem-se de maneira ora sutil e cativante, ora ácida e contundente, tanto nas líricas quanto nas críticas sociais, com clara intenção de sensibilizar, emocionar e transformar através de experiências significativas quem toca e quem ouve.
Formada em meados de 2001 na cidade de Curitiba/PR, a banda apresentou-se em 17 edições do Festival Psicodália e em vários festivais de música independente pelo país, entre eles: Festival da UFPR, Festival Umbigo, Festival Enfoque, Festivas Prasbandas, Festival Terra Azul, Festival Congresso Bruxólico em São Francisco do Sul/SC, Corrente Cultural de Curitiba, Festival Grito da Terra em Concórdia/SC e no Festival Libélula de Ano Novo 2019/2020.
Para quem está com saudades de assistir a um show, no canal da banda você pode conferir a apresentação ao vivo da segunda faixa do álbum, “Tupiniquim do Asfalto”, gravado em 2019 no teatro do Sesc de Chapecó:
A atual formação do grupo conta com Jacir Antunes (Violão e Voz), Érico Viensci (Guitarra e Voz), Dênis Naressi (Flauta Transversal), Ênio Naressi (Baixo) e Luis Fernando Wadouski (Bateria).
Nos seus 19 anos de produção musical, a banda lançou seu primeiro EP com 6 faixas em 2003, o “Ao Vivo no Psicodália” em 2008 e, em 2010, o disco “Sopro Difuso”. Em 2020 lançou o disco “Escuta, Zé Ninguém!”.
Para o futuro, assim que possível, o objetivo da banda é circular por festivais e eventos, mostrando o novo trabalho, além de voltarem ao estúdio e iniciar a gravação do novo álbum que já possui 8 músicas arranjadas.
O álbum está disponível em todas as plataformas digitais:
Spotify: https://spoti.fi/33XeTf7
Deezer: https://bit.ly/2PNNSm4
ITunes: https://apple.co/33YJatS