
Por Ananda Zambi
“Tudo Vai Ficar Como era Antes”, é nisso que acredita a banda maceioense Os Fugitivos, que lança hoje a primeira parte de seu primeiro disco. Em um dos períodos de maior distanciamento social da história, um álbum que fala justamente sobre família – em suas mais variadas formas: pais, avós, amigos, namorados, etc. – pretende acalentar nossos corações (e também refletir sobre nossas relações) em um período tão difícil quando se trata de afeto.
Sendo as músicas de autoria de Thiago Mata, vocalista e guitarrista do grupo, ele revela de onde veio a inspiração para o repertório:
“Era de um projeto meu voz e violão que acabou não dando certo, e aí foi que eu vi que ela meio que se encaixava bem com essa ‘safra’ de músicas que acabou vindo no início do ano passado. Todo esse processo foi muito natural, os temas, as letras, as composições. Depois eu fui perceber que as músicas conversavam e que dava pra transformar aquilo num disco, numa obra mais completa e até com uma temática envolvendo todas elas. Fui criado pelos meus avós e sou filho de pais separados, então esse tema da família sempre foi recorrente nas minhas músicas e sempre foi algo que me tocava muito quando eu escutava música.”
Ainda segundo a banda, Tudo Vai Ficar Como era Antes (Vol. 1) fala sobre proteção, abandono, sensação de querer e ser quisto, vontade de independência e importância dos laços.
“O Farol”
O primeiro single do novo trabalho, “O Farol” foi lançado no dia 22 de abril. A faixa conta a história de um casal de idosos em que um deles morre e a única forma de reencontro é através dos sonhos. Nesse imaginário, eles continuam seus amores, com a consciência de que, quando acordam, não há dor, só miragem.
“Ôôô”
Enquanto “Farol” fala sobre amor, imaginação e miragem, essa trata de um tema muito real e infelizmente em voga: o abandono paterno. E o faz a partir da ótica do filho abandonado.
“Ôôô” é uma música vintage e atual ao mesmo tempo. A canção tem raízes e estéticas setentistas, da época tropicalista, com influência de Jorge Ben Jor ao mesmo tempo que também se inspira em O Terno e Rodrigo Amarante. Para a banda, ela se destaca “no groove do baixo, na levada hipnótica e na força da voz.”
Apesar da sonoridade suave, “Ôôô” trata de um tema pesado com uma letra impactante (E quando morrer não vai / Ser lembrado por ninguém / Mas ele sempre quis assim / Pega a minha mão / Soltou).
Além dessas duas faixas, Tudo Vai Ficar Como era Antes (Vol. 1) é composta por mais 4 músicas. A terceira faixa do disco, de mesmo nome, representa “aquele amor mais puro, verdadeiro, leve e sem muitos floreios pra dizer o que quer dizer”, diz Thiago. “Queria aquele clima tropical que me lembra o Sou, disco solo do (Marcelo) Camelo e o Coisa Boa, do Moreno Veloso. Para ser tocada andando na orla, seja de carro ou a pé, naquele final de tarde, e que agora faz muito mais sentido durante esse momento de pandemia, onde o nosso desejo é que tudo volte a ser como era antes”, desabafa o vocalista.
Enquanto “Vou Me Encontrar” fala sobre superproteção – conta a história de um músico que procura a aceitação de sua família para seguir nessa carreira – , “Bandeira” é a única música do disco que fala de um assunto diferente: política. Sobre diferenças e igualdades, sobre aceitar e ser aceito. “Ela foi feita usando a mesma base de “Tudo Vai Ficar…”, quase de brincadeira tocando por cima”, conta a banda. “Pai”, a última dessa primeira parte do álbum, foi a primeira a ser escrita. É a música mais sentimental do disco e, para Thiago uma das mais fortes de se ouvir: “Recomendamos escutá-la tranquilo, de olhos fechados.”

Segundo o grupo, “o processo de composição desse disco foi fluido e, de forma bem natural, acabamos resgatando a essência das nossas formações identitárias e musicais, nos distanciando do nosso material anterior e mergulhando num mundo mais brasileiro, com foco em vocais leves, instrumentos percussivos e linhas de baixo dançantes, trazendo elementos da Tropicália e do indie-rock brasileiro dos anos 2000 – de Novos Baianos e Jorge Ben Jor a Los Hermanos.”
O disco foi dividido em duas partes por questões de logística – um dos principais motivos é justamente o isolamento compulsório por causa da pandemia de Covid-19 – e também como forma de manter um movimento constante de lançamentos. Tudo Vai Ficar Como era Antes (Vol. 2) está previsto para 2021.
Gravado no Maná Records, estúdio e selo de gravação onde Thomas Schaeffer, baixista, e o próprio Thiago trabalham, Tudo Vai Ficar… contou também com Yuri Torres na bateria e Marina Ribeiro e Alexis Gotsis nos vocais de apoio. As capas e as artes do álbum são também de Thiago Mata.
Formada por Thomas Schaeffer, Thiago Mata e Yuri Torres, Os Fugitivos surgiram em 2018 a partir da dissolução da banda Pacamã – originalmente também com Mateus Borges (Cães de Prata), Igor Cavalcante e Mateus Magalhães (Azul Azul). Yuri, conhecido pelo trabalho na banda Palhaço Paranoide, se juntou ao grupo em 2019.