Bixiga 70: a banda instrumental brasileira que embala o mundo
Bixiga 70: a banda instrumental brasileira que embala o mundo

Bixiga 70: a banda instrumental brasileira que embala o mundo

Por Carlos Eduardo Pereira

Fotografias: José de Holanda

Formada a partir da união de músicos conhecidos na cena paulistana, das mais variadas frentes musicais, a Bixiga 70 apresenta fortes influências que passam por dub e reggae, cumbia e carimbó, ethio-jazz e samba-jazz. Sem nenhuma letra nas melodias, a banda instrumental se destaca, desde 2010, com sua performance em shows e festivais no Brasil e no mundo.

São nove membros: Décio 7 (bateria), Marcelo Dworecki (baixo), Cris Scabello (guitarra), Mauricio Fleury (teclado e guitarra), Rômulo Nardes (percussão), Cuca Ferreira (sax barítono), Daniel Nogueira (sax tenor), Douglas Antunes (trombone) e Daniel Gralha (trompete).

Juntaram-se membros que acompanham diversos grupos e artistas como Rockers Control, Projeto Coisa Fina, Pipo Pegoraro, Gal Costa, Elza Soares, Anelis Assumpção, Emicida, Rodrigo Campos, Alzira E, entre outros.

A banda explora a fusão da música instrumental africana, latina e brasileira em composições próprias e versões de artistas brasileiros como Luiz Gonzaga, Pedro Santos e Os Tincoãs.

Em 2011, um ano após a formação, lançaram o primeiro álbum, “I”. Foram intervalos de dois anos para os próximos discos, o “II”, em 2013, e o “III”, em 2015, sempre reforçando as raízes brasileiras e africanas.

Depois de três anos em turnê, o quarto disco chegou dia 20 de julho de 2018, intitulado “Quebra Cabeça“. O título do álbum se inspira na arte da capa, obra de MZKque trabalha com a banda desde o primeiro disco.

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A faixa homônima ao disco ganhou videoclipe, que conta com a presença de Jimmy The Dancer, dançarino famoso da noite dub-reggae paulistana.

Desde 2015, os músicos fizeram mais de cem shows em turnês por países como apresentações na França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Suécia, EUA, Marrocos, Índia, Nova Zelândia e Austrália,

Tocaram em festivais como Glastonbury, North Sea Jazz Festival, Roskilde, Womex, Jazz à Vienne, Womad Australia/Nova Zelandia, sem contar os espetáculos aqui no Brasil.

Esse espaço internacional conquistado levou os dois trabalhos de estúdio seguintes a serem lançados por selos internacionais. O segundo disco da banda foi lançado pelo selo +1 discos, de Londres, e o terceiro pelo selo alemão Glitterbeat (eleito pelo Womex o selo mais importante de World Music). A parceria com a Glitterbeat continua, garantindo o lançamento global do próximo trabalho da banda.

No início, as composições surgiam de ideias individuais, mas com o tempo, as músicas passaram a serem compostas a partir de improvisos coletivos durante os ensaios no Traquitana, estúdio onde a banda ensaia e grava desde seu surgimento, localizado no bairro paulistano do Bixiga, na rua Treze de Maio, 70, subsolo.

Considerado por muitos como o berço do samba paulistano, o bairro do Bixiga também hospeda e alimenta a imaginação desses dez músicos que buscam estreitar os laços entre o passado e o futuro através de uma leitura da música cosmopolita de países como Gana e Nigéria, dos tambores dos terreiros, da música malinké, da psicodelia, do dub e de uma atitude despretensiosa e sem limites para o improviso e a dança.

Em entrevista realizada no início de 2018, o grupo fala um pouco sobre sua trajetória e o cenário musical e político:

1 – A Bixiga 70 surgiu em 2010 sendo considerado o melhor show da cidade de São Paulo. Como aconteceu essa junção de dez músicos? Vocês esperavam esse retorno tão rápido?

A banda se formou a partir dos trabalhos que alguns dos integrantes vinham realizando no Estudio Traquitana, que fica na R. Treze de Maio, número 70, coração do bairro do Bixiga. Formou-se um núcleo inicial, e outros músicos foram se juntando. Havia uma vontade grande de se fazer um som dançante, instrumental, que soasse como banda mesmo, já que todos estavam trabalhando acompanhando cantoras e cantores. E desde o primeiro show o público embarcou na viagem junto com a gente. Conseguir manter a banda ativa, produzindo e trabalhando por tanto tempo (já se vão mais de 7 anos) tem sido realmente surpreendente.

2 – Como surgiu a ideia de “Primeiramente” como música e depois um clipe? Para vocês, qual é o papel de um artista/banda no cenário político?

Sempre achamos importante nos posicionarmos politicamente, não só em relação ao golpe como em diversas outras questões. Porque o papel do artista/banda não pode ser diferente do papel de cada cidadão, que é participar e se posicionar frente a questões que afetam a coletividade. O Bixiga é a soma de todos os seus integrantes, que formam uma “persona” musical única. Não há como isso acontecer se essa “persona” não transcender a música e existir em outras dimensões, inclusive política.

A gente sempre foi “Fora Temer”, e “Primeiramente” surgiu da necessidade de se gritar isso e tudo o que isso representa musicalmente. O clipe foi concebido pela artista e cinegrafista Eliza Capai, que sacou que essa é uma questão universal, e gritou isso brilhantemente com imagens.

3 – Vocês já fizeram vários shows fora do Brasil, tocaram em um dos maiores festivais de música do mundo, que é o Glastonbury. Como foi o processo de inserção da banda fora do país?

Desde o começo havia o desejo de se levar o trabalho também para fora do Brasil. Essa história começou pra valer quando participamos do Porto Musical, evento organizado pela Melina Hickson, no Recife, que aproxima artistas de contratantes nacionais e estrangeiros. Nosso show lá foi visto pelo Peter Hvalkof, um dos curadores do Roskilde Festival, na Dinamarca. A partir do convite dele pra tocar no festival, nos organizamos na Europa e desde então temos ido com frequência.

4 – Como é o processo de composição de vocês? Vocês são em dez músicos, como é a organização das ideias até resultar em uma música?

O processo foi ficando cada vez mais coletivo. O terceiro disco foi praticamente feito todo pelos 10 no estúdio, começando as músicas do zero. É um processo demorado e difícil, por ter sempre tanta gente dando ideia, mas conforme vamos tocando vamos refinando, até chegar no resultado final.

5 – Para vocês, qual é a importância do disco de vinil?

Somos fãs, compradores e em alguns casos colecionadores de vinil. Além da questão sonora, o vinil também influencia na hora de pensar num trabalho novo, pois sempre concebemos pensando em caber num disco, e com lado A e B.

6 – Como a internet beneficiou/beneficia na carreira de vocês?

A internet é uma forma muito eficiente de distribuir o trabalho, além de nos permitir conhecer os sons mais diversos das épocas e lugares mais inimagináveis, o que obviamente influencia nossa criação. E também é fundamental por manter nosso público mais próximo de nós.

7 – Qual é a visão de vocês sobre o cenário musical brasileiro atualmente? Há uma maior dificuldade para bandas instrumentais?

Cenário é bastante contrastante. Por um lado, nunca se produziu tanta música boa, por outro, nunca foi tão difícil se viabilizar financeiramente…. Isso vale pra toda música autoral, seja instrumental ou não. Claro que há esperança, ações como a do Sesc em São Paulo e a própria cena de festivais, que cresce tanto no país, ajudam a manter a cena viva e pulsante.

8 – Que conselho que vocês dariam para quem tá começando?

Toque como se sua vida dependesse disso. Até porque ela depende.

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