Caetano Veloso e Hermeto Pascoal: as antíteses da música brasileira no século XX
Caetano Veloso e Hermeto Pascoal: as antíteses da música brasileira no século XX

Caetano Veloso e Hermeto Pascoal: as antíteses da música brasileira no século XX

 
 
 

“Será que apenas os Hermetismos Pascoais
Os Toms, os Miltons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas

E nada mais?”

 

Canta Caetano em “Podres Poderes”, afirmando sua já histórica luta pelo entendimento cultural como algo de suma importância política.

Foi essa mesma luta que o aproximou de grandes músicos e o tornou influência no final dos anos 60.

Na década que se seguiu, tanto ele quanto Hermeto Pascoal já eram influências consagradas da nossa música.

O que contam os livros que tive a oportunidade de ler: “Gilberto Bem Perto” sobre Gilberto Gil, e “Apenas Um Rapaz Latino Americano”, sobre vida de Belchior, mostram que Caetano e Hermeto eram importantes parâmetros de relevância de novos artistas naquela época. Quem tivesse a simpatia e a aprovação dos dois já tinha um caminho facilitado para se desenvolver.

Só que mesmo numa cultura como a brasileira, onde o popular e o erudito já são unificados desde a Bossa Nova, passando por Tropicalismo, da Banda de Pífanos de Caruaru até chegarmos no Arrigo Barnabé, Caetano e Hermeto eram as influências que separavam isso na hora de incentivarem novos artistas expoentes.

Não que os músicos que Caetano apresentou não tivessem um grande valor erudito e nem que os que foram apresentados através de Hermeto não tivessem seu valor popular (e não quer dizer que os dois tenham culpa dessa “separação”). Mas por exemplo, enquanto Caetano fortificou cenas musicais como o Clube da Esquina de Minas Gerais, Hermeto sempre buscou trazer relevância para músicos que tivessem uma sonoridade mais folclórica, como Robertinho de Recife e Glorinha Gadelha.

Antítese 1.

“O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem”

Divaga Caetano em “O Estrangeiro”.

Recentemente, Hermeto é questionado em uma entrevista sobre uma afirmação de Veloso sobre a música dos Estados Unidos ser a maior do mundo, Pascoal discorda e afirma a própria música brasileira ter esse mérito.

A discussão você entende neste trecho do documentário “Coração Vagabundo” (2008), de Fernando Grostein Andrade, em que Caetano Veloso comenta a declaração de Hermeto Pascoal:

O que, a meu ver, justifica o ponto de Caetano é justamente os Estados Unidos terem uma grande e diversificada miscigenação, o que em sua visão trouxe elementos musicais que transformaram a música gritantemente no século passado. Isso mantém sua linha de discurso desenvolvida para a defesa da música brasileira nos tempos de tropicalismo.

Já Hermeto, vê as coisas mais de dentro para fora do que o contrário, ele entende a importância da música do mundo todo, mas percebe nos brasileiros os caminhos mais grandiosos da música no contexto geral da palavra. Talvez isso ocorra por algo sentimental, coisa que ele se usa muita para explicar a própria música, ou talvez seja sua percepção factual sobre esse assunto, afinal, entendimento ele tem!

Antítese 2.

Mas esse texto não é para afirmar nenhum dos dois lados. Estamos falando de seres que surpreendem o humano. É um caso mais de crer do que de afirmar. E para crer é preciso ter dúvida.

E se nesse embate de ideias entre titãs, para nós, pequenos e reles admiradores, só nos resta entender que no mundo da música, existe muito mais do que um jeito de estar certo.

Um comentário

  1. Pingback: Psicodália 2019 fecha a lista de atrações do festival com grandes nomes – Revista Artemísia

Deixe uma resposta