Um grito, várias vozes
Um grito, várias vozes

Um grito, várias vozes

Por Ana Paula Dornelles

Fotos Duda Dalzoto

Juntas desde dezembro de 2015, a banda curitibana, Mulamba, vem conquistando diferentes públicos, com um grito que tem muito a dizer. Seis mulheres – Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Érica Silva (baixo, guitarra e violão), Fer Koppe (violoncelo) e Naíra Debértolis (guitarra, baixo e violão) -, erguem as vozes e as batidas dos instrumentos, para reforçar ainda mais a luta pela igualdade de gênero.

A visibilidade do sexteto foi alcançada após a repercussão da música P.U.T.A (mais de 2 milhões de visualizações), que pauta a violência contra a mulher e os desafios de uma sociedade machista e opressora.

Em 2018, a banda se apresentou no Festival Psicodália. Um show capaz de causar inúmeros sentimentos. Estive lá e posso comprovar que a sensação de ouvi-las no palco é ainda mais gratificante. E para quem acha que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Ano que vem, Mulamba retorna ao Festival, com a bagagem ainda mais cheia e nossos corações ainda mais apaixonados.

E para que mais pessoas conheçam essas mulambentas, em entrevista para a Revista Artemísia elas falam um pouco mais sobre a caminhada da banda e os trabalhos desenvolvidos até aqui:  

Vocês estão juntas desde 2015. Como aconteceu a formação da banda e como foi esse momento?

A ideia era fazer apenas um show em homenagem à Cássia Eller e seu aniversário, mas foi um momento tão intenso e uma conexão musical tão forte que foi natural mantermos os encontros e as trocas até surgir Mulamba.

O que buscam alcançar com o som de vocês e no que se inspiram para criar suas músicas?

Buscamos retratar fatos, falar sobre sentimentos, expressar o que precisa ser dito, aquilo que toca, agonia, marca, move, através da música. As inspirações vêm dos momentos da vida de cada uma, na forma de querer expressar o que se sente ou vê, nas histórias.

A música ‘P.U.T.A’ pode ser considerada como uma referência ao empoderamento feminino e além disso, foi uma das responsáveis por tornar a banda ainda mais conhecida pelo público. Como foi o processo de produção dessa canção que hoje já possui mais de 2 milhões de visualizações no Youtube?

A música P.U.T.A pode ser tudo e mais um pouco. Para cada pessoa  que se relaciona com ela, ela passa uma mensagem. Dizer que ela é uma referência ao poder feminino seria muita pretensão da nossa parte, então preferimos ver essa composição como começo de liberdade interna das almas envolvidas com essa banda. O processo de produção do vídeo veio dum convite da HAI studio, aceitamos na hora. Foi e é lindo trabalhar com a HAI e o resultado está nos números de visualizações que o vídeo tem. Somos muito gratas a todo mundo que entende e espalha essa mensagem.

Como é o dia-a-dia da banda, de que forma vocês reúnem-se para compor e ensaiar as músicas?

O dia-a-dia vai um pouco além dos ensaios. Nós nos dividimos em tarefas como negociar, fechar shows, cuidar das mídias, organizar o financeiro, escrever sobre nossas experiências, responder entrevistas, montar cronograma, planejar os próximos passos e enfim, é um universo de áreas e possibilidades que estamos conhecendo e aprendendo sempre. Em relação aos ensaios, procuramos nos reunir para ensaiar nosso repertório e também fazer ensaios criativos que é quando as composições normalmente aparecem.

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Nós da Revista estivemos presente no show de vocês no Psicodália. Foi uma sensação muito emocionante, principalmente pela energia que vocês colocam no palco. Sobre esses momentos, de estar junto ao público, como vocês se sentem e como acontece essa preparação antes de cada show?

O Psicodália foi de fato um momento muito emocionante. É muito difícil explicar a sensação dos shows, cada um é muito especial pra nossa evolução. Normalmente ficamos uma hora antes do show juntas, cada uma fazendo seu aquecimento/alongamento, fazemos nossa maquiagem e buscamos sempre dar aquele abraço coletivo e algumas respiradas para concentrar energia. É um momento muito importante e respeitoso para todas nós.

A banda é consideravelmente nova, mas já vem conquistando seu espaço no cenário musical. De que forma aconteceu todo esse processo, desde a formação do sexteto até os dias de hoje?

O que nos uniu foi a forte conexão com a música. Ser quem somos e nos potencializarmos não só musicalmente é o que faz com que muitas portas se abram, não só no cenário musical, mas no cenário da vida. Começamos tocando em bares e as coisas foram ampliando, parcerias foram surgindo e o som se espalhando. Nesse pouco tempo de caminhada, estivemos em festivais como Psicodália, Morrostock e Forró da Lua Cheia, tocamos também em lugares como Circo Voador (à convite das lindezas da francisco el hombre), ocupação Ouvidor 63, Flip, entre tantos outros, e é só o começo.  

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Hoje é possível perceber a crescente participação de mulheres na música, inclusive com esse intuito de falar sobre empoderamento feminino e outras questões sociais, mas ainda há uma valorização maior de artistas homens. Como vocês veem esse cenário? Já foram vítimas de algum preconceito dentro dele, por serem mulheres?

Na verdade, é sabido que a mulher sempre esteve por aí, fazendo e criando em todas as possibilidades de linguagens artísticas mas sempre sendo boicotada pelo patriarcado, nas grandes formas de mídia e em espaços culturais.

A sociedade patriarcal criou um ressentimento subentendido de tudo  que abrange o universo feminino que não tem nenhum fundamento, esse ressentimento é capaz de extirpar uma vida sem nenhuma importância ou consideração.

Já vivenciamos situações chatas por sermos mulheres sim, mas trabalhamos com tanto afinco no que acreditamos, sendo capazes até mesmo, de ver mudar a postura dos profissionais durante o processo de pré-show e seguimos fazendo nosso espaço com base no nosso acontecimento cotidiano como milhares de manas, todos os dias há muito tempo, falamos sobre respeito à diferença e sobre uma existência sem medo.

Nas últimas apresentações vocês aparecem com o figurino da H-AL. Qual a representação que ele busca dar?

O figurino é nossa armadura, é mais uma linguagem artística compondo o show. Os detalhes da roupa, os movimentos, o fato de olharmos pro lado e nos identificarmos não só musicalmente nos trás força e mais confiança. É a arte se expressando não só através da música.

Qual a história por trás da música ‘Provável canção de amor para estimada Natália’?

Essa é uma canção de amor a nossa ex-guita, Nat Fragoso e nascera bem no início da leva de composições que hoje compõem o show. Provável canção de amor para estimada Natália é um “ode à amizade”. Começou num diálogo entre Amanda e Natália, antes de um ensaio, elas gostaram e propuseram continuar a letra com a banda e nasceu esse som de presente à presença de Natália Fragoso na história da banda e na vida da gente.

Qual os planos futuros? Tem previsão para o lançamento do primeiro álbum?

O plano é sempre evoluir, trocar, aprender e seguir fazendo som, que é o que amamos. Lançamos nosso primeiro álbum em novembro, produzido pela mais nova multi-instrumentista da Mulamba Érica Silva. E se tudo seguir andando como está, um clipe novo sai em breve.

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