
Por Renan Bernardi
Se eu fosse relevante ao ponto de dar conselhos jornalísticos, diria para a classe nunca ouvir “O Brasil Quer Mais” do Lupe de Lupe antes de fazer um resumo da semana.
Não que tudo que a música traga seja algo negativo, mas a absurda quantia de pontos de vistas apresentados na canção deixaria qualquer pessoa que tenha a missão de noticiar, no mínimo, muito confusa.
“Tentar ajudar quem precisa faz diferença ou não?
Infelizmente é música violenta e sobre amor
E infelizmente eu julgo e me acho no direito de julgar”
Eu conheci a Lupe de Lupe pouco tempo antes do lançamento dessa canção. As frases simples e sinceras em rimas precisas, ou por vezes, mostrando a dispensabilidade das rimas, já havia me encantado em canções mais românticas como “Gaúcha”.
Mas já em “O Brasil Quer Mais”, apesar de ter tido uma atenção muito breve, a banda trouxe uma das músicas mais contemporâneas da realidade brasileira.
“Infelizmente não é todo mundo que tem o privilégio de ficar em cima do muro”
Depois de me pegar muito atento aos oito minutos de “O Brasil Quer Mais”, precisei de mais do que o dobro do tempo da canção para dissolver tanta informação.
A letra não simplesmente aponta os erros da nossa convivência em sociedade, mas o “8 ou 80” com que tratamos todas as esferas políticas e sociais que nos envolvem, a facilidade com que tomamos partidos das coisas sem análise de contexto, como se tudo fosse fácil e a nossa luta ideológica fosse claramente o romântico “bem contra o mal”.
A realidade não é assim, mas pessoas buscam sempre ter seu lado definido para poderem esculachar com “argumentos” qualquer ideia que não bata com a sua. Talvez por uma necessidade de ódio oprimida ou talvez para se encaixar em algum grupo onde tal ideologia bata com os demais membros.
“O Brasil Quer Mais” é uma música com alvará para ser odiada por todas as facetas políticas e sociais do nosso país.
“E a gente vai assim, procurando os erros uns nos outros
Sem ver os nossos próprios erros e contradições
Mesmo agora, você está tentando achar um furo no meu raciocínio
Elaborando uma forma de usar o que eu canto contra mim”
Mas não é preocupada com a consistência de sua ideia que Lupe de Lupe desenvolve seu pensamento, a letra traz dúvidas e mais dúvidas, pontos de vistas diversos que se embatem e que não se concluem, não mostram uma visão política definida, ao contrário, busca mostrar que não existe uma ideologia de pensamento perfeita, que tudo é muito confuso, complexo e divergente de contexto para contexto.
“Como diz pras pessoas procurarem a polícia?
Como diz que linchamento online não é certo?
Eu não sei como diz, eu não sei o que é certo”
Ao dizer “eu não sei o que é certo”, a canção mostra a mais pura realidade racional da nossa atualidade. Nós nos deparamos diariamente com diversos pontos de vista e o que surge disso é uma enorme e gigantesca culpa.
Sim, CULPA.
A gente se sente culpado quando julga e toma partido, a gente se sente culpado por não ter tomado partido, a gente se sente culpado por ter falado demais, como também se sente culpado por não saber o que falar.
E assumindo essa culpa por ter tanta dúvida, “O Brasil Quer Mais” tenta mostrar que a necessidade de posicionar, fica muitas vezes na frente da base teórica que teríamos que ter para realizarmos isso de fato.
Não é uma canção para responder nada, é justamente para levantar dúvidas, não bandeiras. É um manifesto sobre o cansaço, a confusão e pressão de nosso dia a dia.
“Você me diz que o Brasil quer mais
Eu digo quer mais é se fuder”
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