
Depois de várias viagens de ônibus e domingos de gravações de Benke e Dinho, a Boogarins tomou forma em 2012 com o lançamento independente do EP “As plantas que Curam”. Não demorou muito para a banda chamar atenção. No Brasil, no início, só um blog musical deu ouvidos a Boogarins. Já lá fora, o som dos caras agradou tanto que a gravadora Other Music não exitou em mandar logo um contrato para lançar o primeiro álbum da banda.
Entrevistamos o vocalista e guitarrista Fernando Dinho, que conta como foi esse processo para a banda até chegar ao sucesso nacional e internacional.
Como se deu a gravação do “As plantas que curam”? Como foi esse processo de divulgação do EP até ‘encontrar’ uma gravadora? E como foi sair de uma produção independente e já assinar com uma gravadora tão rápido? Houve uma regravação do EP gravado em casa ou o EP foi remasterizado pela Other Music?
Eu fazia ensino médio com o Benke e sempre matávamos aula para tocar violão. Quando terminamos o ensino médio o Benke já tinha começado a gravar uns lances e me convidou para ir tentar gravar umas coisas com ele na casa dele. Passamos 2012 inteiro comigo pegando dois ônibus para ir gravar com ele em alguns domingos. Sempre voltava escutando algo já meio pronto. Experimentamos/descobrimos/aprendemos muito nesse processo.
Chegamos a um EP, chamamos o Raphael e o Hans (que já tinha gravado Lucifernandis e Doce) para tentar tocar as músicas ao vivo e sermos de fato uma banda. Mostrávamos o som para vários amigos e outros músicos da cena, fosse tocando no violão ou com foninho no meio de festa. Todo nosso círculo de amigos já meio que conhecia a banda que já tinha gravado, mas nunca feito show. Lançamos por conta própria um K7 lindinho e fizemos nosso primeiro show no estúdio/bar que eu trabalhava.
Nesse fluxo de lançamento do EP, o Benke disparou vários e-mails para blogs daqui do Brasil e de fora. Só um blog daqui do Brasil respondeu e postou sobre o som de fato, mas vários blogs obscuros gringos deram atenção para a coisa. Nisso, um cara nos Estados Unidos (Marc Sloop, hoje nosso amigo) ouviu e mostrou para outro amigo (Gordon Zacharias que hoje em dia é nosso manager) e ele mostrou para o pessoal da Other Music, que nos enviaram um contrato muito rápido querendo lançar a coisa.
Para gente foi um susto bom, nunca esperávamos por isso. Ainda mais com um lance que sequer tinha feito apresentações ao vivo. Topamos lançar o EP com eles, inserimos Doce e algumas outras faixas mais experimentais para o EP virar disco. E o disco ganhou uma master como todo disco de hoje em dia recebe, nada que realmente alterasse as músicas, mais sobre volume, peso e definição
Qual é a percepção de vocês sobre o cenário musical brasileiro atualmente? Qual é o conselho que vocês dariam para uma banda que está começando?
Acho que tem bastante coisa bacana, bastante gente interessada. Pessoas criando selos promovendo shows em lugares diferentes/difíceis, rotas ressurgindo. No meio de tudo, um processo maluco/maravilhoso de reinvenção da lógica de quem/qual são as figuras/ideias protagonistas dentro da música. Enfim, muitas conversas sendo trocadas de todas as formas possíveis. Tudo isso dentro de um momento caótico, onde sobra um ódio extremamente cínico e uma falta de sensibilidade aguda.
Resta a fé na moçada boa do meio independente/alternativo, que a meu ver acaba se engajando e se renovando mais, dentro deste processo maluco que é fazer música e envolvendo várias coisas importantes dentro do criar. E isso é bem foda.
Para quem está começando, é se enfiar no lance o quanto puder, para ver se gosta. Para descobrir seu som, dividir ideias, para assim conseguir melhorar você e o que tá em volta da maneira mais sincera e prazerosa possível. O resto é corre e rala.
Como é o processo de criação de vocês?
Acho que não existe um padrão exato de como as coisas acontecem. Mas cada um tem suas afinidades e damos um jeito de cruzar isso, tendo como foco a fluidez da canção e da textura da coisa toda. Desde que o Ynaiã entrou para banda brincamos muito com o lance de improvisar, seja em temas novos ou dentro de canções antigas. Isso sem dúvida nenhuma trouxe um frescor muito maluco no desenvolvimento das novas ideias da banda.
Como vocês lidam com as comparações que surgem da música de vocês com bandas e artistas brasileiros já consagradas?
Achamos bom, de uma certa forma normal. É comum fazer associações com algo conhecido para entender algo novo. Se gostamos do artista que nos comparam é algo que nos deixa muito felizes e instigados a continuar se enfiando nesse trem louco de fazer música.

Qual foi a sensação quando vocês tocaram pela primeira vez para um público fora do Brasil?
Na primeira, primeira vez mesmo, foi cansaço, por que no nosso primeiro dia de show/trabalho fora do Brasil, fizemos cinco shows no festival SXSW em Austin, Texas.
Mas gostamos muito dessa interação mais sensorial que uma platéia que supostamente não entende o que você está cantando traz. A música é uma linguagem que derruba várias barreiras que criamos no entendimento das coisas e é muito bonito e forte sentir isso quando você está se apresentando longe de casa.
Para a Boogarins, como a internet beneficia o trabalho de divulgação de uma banda?
As redes sociais e a internet como um todo, já são uma realidade paralela bem forte no dia dia da maioria das pessoas hoje em dia, logo é necessário se fazer presente, manter contato e gerar conteúdo para quem já conhece a banda e também para quem não conhece. Com certeza essas ferramentas aliadas a lógica de consumo de música por streaming, nos ajuda muito a estar sempre presente na cabeça das pessoas. E isso nos ajuda a fazer essas pessoas irem ao nossos shows, o que nos possibilita fazer/viver de música.
A internet também nos mostra a importância dos acontecimentos fora dela. O tanto que uma experiência de show, ou de uma festa/lugar que tocou/toca sua música, ou ainda uma conversa com alguém desconhecido na rua sobre sua banda, pode acabar sendo mais efetivo que um post patrocinado.
Como foi para vocês as parcerias com a Céu e com a Salma Jô?
A Salma e os meninos da Carne Doce são amigos e iguais de Goiânia, com quem temos uma relação bem próxima e sempre trocamos ideias e sons. Não tinha como não rolar isso.
Com a Céu também foi bem especial, porque gostamos muito do trabalho dela e nunca iríamos imaginar que isso iria acontecer um dia. Tive o prazer de compor junto com a Céu “Camadas”, que faz parte do último disco super foda dela e isso acabou dando linha para gente fazer uma apresentação junto no Rock n Rio. Ela, banda e equipe são super maravilhosos, são iguais. É bem gratificante, estimulante e mais mil outros bons sentimentos malucos, encontrar gente, assim, igual, para dividir as frituras da vida. Coisa boa é coisa boa.
Para 2018, o que podemos esperar de novas produções da banda?
Com certeza, 2017 já foi bem intenso e na real a gente nunca para. Esse ano lançamos um disco ao vivo (Desvio Onírico), o “Lá vem a Morte” (que tá saindo em vinil agora com a Noize Record Club) e fizemos um curta/doc com a galera da VOID que ficou surreal e ainda gerou uma k-7 cheia de improvisos e participações malucas como Negro Leo, Mahmundi, Ava Rocha, Bruno Schiavo. Enfim, 2017 tá sendo foda e isso é combustível para o ano que vem. O lema é forte: Ano novo/Brisa nova.
Vocês já tocaram em festivais fora e dentro do país. Qual é a diferença de produção e energia do público?
É maluco fazer comparações assim, acho que cada festival acontece dentro da sua realidade e lida com fatores positivos/negativos de sua respectiva localidade. A gente sempre tenta se entregar inteiro pra receber o dobro do público, sempre é bom e adoramos festivais.
Qual é a história do “play 3 do tio”?
E qual é a parada que o cara tá desaprendendo que é pra sempre e nunca mais volta, do ‘Lá vem a morte pt.1’?
Como surgiu a ideia de utilizar esses recortes no som da Boogarins?
O do play 3 não é recorte, é que um amigo nosso tava no momento que gravamos violão ou baixo de “Doce”.
O outro áudio, do começo de “Lá vem a morte”, é um áudio de whatsapp, muito inspirado no nosso parceiro e cineasta genial, Ricardo Spencer.
O Benke tem feito mixagens/edições de uma forma que realmente se assemelha muito a colagem, trouxemos essa lógica pro nosso jeito de tocar também, na repetição, na ideia de mantra. Vejo essas frituras como um desdobramento disso e também do processo de evolução constante que vejo o Benke se enfiar desde que conheço ele. É maluco comparar as doiduras que descobrimos juntos no “As plantas que curam” com as piras mais maduras e complexas do “Lá vem a Morte”.
Fotografias por Isadora Stentzler
Que entrevista fodastica, gostei muito das perguntas e repostas, sendo um grande fan de boogarins. Finalmente explicaram aquela colagem muito foda “Eu to defendendo uma parada que é pra sempre e nunca mais volta”
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