Escrever, pra quê?
Escrever, pra quê?

Escrever, pra quê?

Por Carlos Eduardo Pereira

No final vai estar do mesmo jeito. O que muda é apenas a folha. Tu pode me dizer que tudo vai passar. Mas chega uma hora na vida que tu não quer que passe. Às vezes deseja que não tivesse começado. Se era pra ter um fim, seria melhor se não tivesse começado.

O fato é que as pessoas tem medo de começar algo já pensando que terás um fim. E tem um fim exatamente pelo medo.

O medo anda lado a lado com a solidão. E há pessoas que dizem gostar da solidão. Mentira. Ninguém pode gostar de chegar em casa e não ter ninguém pra conversar. Contar como foi o trabalho para as paredes, não tem graça. Teu travesseiro até pode enxugar tuas lágrimas, mas ele não fala. E se falasse, ele diria “sai de cima de mim”. E se andasse, até ele se afastaria de ti.

São sempre as mesmas frases, sempre as mesmas músicas, sempre os mesmos clichês. Chega uma hora que algo tem que mudar. Chorar no fim da tarde, ter esperança quando chega a noite e fingir estar tudo bem quando acorda de manhã, é cansativo demais. Tu se olha no espelho e tenta pelo menos mudar o cabelo, não muda nada. E pensar que tu poderia ter feito diferente, também não vai mudar nada. Desejar estar perto, não vai te trazer a pessoa amada.

É preciso andar, é preciso falar, estar frente a frente, olhos com olhos, não escrever.

O que fica é este desespero em esperar. Esperar este medo passar.

É como ficar esperando cartas que nunca vão chegar
não vão chegar com “x” nem vão chegar com “ch”
É como ficar esperando horas que custam a passar
Enquanto ficamos parados, andando pra lá e pra cá
É como ficar desesperado de tanto esperar
Olhando pela janela até onde a vista alcançar – Humberto Gessinger

É preciso passear por aí. Olhar as nuvens, andar no parque, ir ao mercado, ir até o centro, comprar um café, bater na porta de uma casa, fingir não saber quem é a proprietária.

E andar, apenas com a coragem, com a tua vontade de viver.

E é claro, às vezes é necessário escrever. Mas é preciso se perguntar: “Escrever, pra quê?”

Estou escrevendo para não gritar. Para não acordar
os que dormem felizes lado a lado,
os que repousam aconchegados,
os que se encontram e continuam juntos
e não precisam sonhar
porque não dizem adeus…  – J. G. de Araujo Jorge

Escrito em novembro de 2013.

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