

Por Kaehryan Fauth
O corpo nu é poesia. O reflexo no espelho é história. A pupila dos olhos é a mais sincera amiga. O caminho não é de todo escuridão.
O branco pálido reluz os tímidos flertes de luz que as nuvens deixam escapar. São tão delicados que sequer aquecem a pele.
A pele, cada dia mais pálida, anseia pelo verão. Poder nadar nas águas escuras de lagos sem vida. Poder correr o risco de afundar e de ninguém mais achar.
Sabe, eu quero acreditar… Ainda tem um mundo bonito lá fora, mesmo que as paredes atrapalhem. Ainda existem formas de falar ainda que a boca não se abra.
E eu sei que o inverno vai fazer falta também. O que mais cabe dentro de mim é saudade. E talvez a vida seja isso… Saudade.
Tem dias que é tudo tão bonito, tem dias que o vazio entristece, e tem dias que…
Eu queria tanto te falar.
Engraçado como a vida é triste, envolvente e bela. Conflitante e imprecisa como as nuvens rajadas em um céu poente. O céu, tão distante, é o mesmo que nos aproxima em um abraço transdimensional e dá conforto à inquietude dos corações que ainda batem.
As mãos cansadas que, antes, buscavam alento e calor, tornam a proteger a face frente ao ar gélido que desafia abruptamente o calor do corpo. Foi preciso sair dali. Foi necessário fazer as malas e ir embora. Apesar das mudanças, porém, manteve-se a essência. E o que querer da vida senão a essência mais pura por si só?
O afronte da efemeridade mora nas ondas, que viajam um oceano, nascem na beira-mar e morrem em tom gradual, espumando e desfazendo-se logo quando tocam a areia. Assim como tudo, nascem para morrer. Sem muito tempo para mudar, para sonhar e se tornar algo maior. Singela, bela, frágil e, algumas poucas vezes, arrebatadora – tal como a vida é.
Sorte de uma onda se, nessa breve existência puder se encontrar com outra que a faça crescer. A solidão não era para lhe parecer ruim, mas o alento do encontro trouxe consigo outro sentido a tudo.
A vida é feita de pares e gosto de pensar que até mesmo as estrelas piscam umas para mostrar umas às outras que não estão sós antes de, enfim, morrerem.
Os sinais que eu te dou, porém, são mais claros. Tenho sorte de ter vivido mais que as ondas e (até me conformo) por não viver tanto quanto as estrelas. A satisfação mora na ternura e na sinceridade de cada palavra, gesto e pensamentos para que tu saiba que, mesmo no dia em que eu não estiver mais neste plano, a mesma lua que me assistiu é aquela que docemente te encara, vezes pálida e outras obscura. E assim seguirá, virtuosamente refletindo a luz de seu par.
É arrogância clamar por solidão. Nada nem ninguém nasce para ser totalmente só.
A solidão é necessária, mas, em grandes doses, torna-se uma redoma que dá falsa impressão de bravura e plenitude que camufla suavemente a insegurança e medo do confronto com o exterior. Não é esse vidro frágil que te manterá a salvo.